terça-feira, 29 de setembro de 2020

Tentação

Todo o esforço do mundo consiste em separar o Cristão de Cristo. Como Cristãos, fomos libertados do poder das trevas e, embora Satanás possa nos ferir, ele não pode nos obrigar a pecar. Devemos aceitar total responsabilidade por nossas ações. Uma das estratégias de Satanás para nos desviar do caminho de fé é colocar diante de nós aquelas coisas que apelam à velha natureza. Isso se chama tentação. Ele conhece nossas fraquezas, em muitos casos, melhor do que as conhecemos. A técnica de Satanás é como pescar. Ele balança a isca, e mordemos – apenas para descobrirmos tarde demais que há um anzol!

Como combatemos a tentação? Se algo é desagradável para nós, isso nunca nos tentará. Embora as tentações do mundo sejam muito prazerosas à carne, elas não têm chance com a nova natureza. Se é a nova ou a antiga natureza que responde à porta quando a tentação bate, depende muito do nosso estado espiritual: “Eu vos escrevi, mancebos, porque sois fortes, e a Palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno. Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 Jo 2:14-17). Homens jovens são caracterizados pela força, e o homem jovem espiritual tem força para o conflito espiritual. Mas é apenas por termos a Palavra habitando em nós – vivendo e respirando ela – que nos mantemos fortes. Isso nos leva a sair deste mundo para uma esfera completamente diferente de pensamento – uma esfera em que a nova natureza é iluminada e fortalecida por comunicação divina. Satanás não pode tocar um homem enquanto a Palavra de Deus é usada em simples obediência. Vemos isso confirmado na vida do Senhor Jesus – aqu’Ele, que sempre fez a vontade do Pai. Em cada ocasião, quando Satanás tentou o Senhor, Ele respondeu dando uma Escritura (Mt 4:1-11). A vida inteira do Senhor foi governada pela obediência à Palavra. Embora nem sempre o sintamos, nós, como crentes, possuímos a mesma vida: Todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” (1 Jo 5:18). Se Satanás é incapaz de tirar o filho de Deus do caminho da obediência, ele é completa e totalmente impotente: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé (1 Jo 5:4).

Todas as tentativas de domar a carne são inúteis. A lei não pode controlá-la, nem penitência ou disciplina severa. O único remédio é reconhecer que isso foi feito na cruz: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5:24). Aos olhos de Deus, aquilo que está ligado à nossa vida anterior está morto e sepultado. Em Romanos 8, aprendemos que vivemos em uma esfera inteiramente nova, governada por princípios inteiramente novos: “Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito” (Rm 8:9). A carne e o Espírito são contrários um ao outro; é somente quando andamos no Espírito que a carne e suas concupiscências não terão poder em nossa vida (Gl 5:16). Deveríamos nos surpreender que a carne seja tão ativa se enchemos nossa vida com atividades mundanas? Nunca deixa de me surpreender que o mundo se pergunte sobre corrupção e violência quando grande parte de seu entretenimento gira em torno dessas duas coisas!

As tentações são muito reais; elas não desaparecem com a idade. As notas anteriores podem parecer espirituais demais e, diante da tentação, muitas vezes somos frustrados por nossos fracassos. No entanto, deve ser enfatizado, não importa quantas técnicas práticas sejam apresentadas, a tentação é, em última análise, uma batalha espiritual. Para o homem deste mundo, muitas tentações simplesmente não existem – ele cede a todas sem a menor dor na consciência. Para o Cristão, não é assim. Mas, considerado tudo isso, não existem coisas práticas para serem encontradas na Palavra de Deus que possamos fazer? Sim, existem. O livro de Provérbios está cheio delas. Nele encontramos a sabedoria celestial para um caminho terrenal. Há um problema, no entanto; o livro de Provérbios não nos fará nenhum bem, a menos que o leiamos e o apliquemos.

A maneira mais simples e prática de resistir à tentação é evitá-la completamente. Não devemos nos colocar em uma posição em que nossas fraquezas possam ser exploradas: Evita-o; não passes por ele: desvia-te dele e passa de largo (Pv 4:15). Quantas vezes devemos cair em um buraco antes de ir por uma rua diferente? Infelizmente, demoramos a aprender. Se o computador é uma fonte de tentação, quando a tentação ocorrer, levante-se e afaste-se dele – não hesite. Você não pode ser tentado por algo que não existe! Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências [não premediteis para a carne cumprir suas concupiscências – JND] (Rm 13:14).

É de ajuda termos de ser responsáveis. Como pai ou mãe, não é prudente prover acesso às coisas que claramente são uma fonte de tentação para nossos filhos quando eles ainda não podem ser considerados responsáveis. É prudente, por exemplo, manter os computadores fora do quarto. Um dia prestaremos contas pelas coisas que fizemos no corpo (2 Co 5:10), mas primeiro aprendemos sobre responsabilidade submetendo-nos a outros – aos nossos pais, mestres, líderes espirituais e colegas fiéis.

Finalmente, é uma mentira do diabo ao sugerir que devemos conhecer o mal para resistir ao mal: Comprazo-me pois em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas símplices no mal (Rm 16:19). Podemos parecer ignorantes àqueles que são sábios no mundo, mas isso nos salva de muitos tipos de tristeza: A sabedoria humana procura guardar-se por meio de vasto conhecimento do mundo e de todos os maus caminhos. Esta não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, natural, diabólica. A sabedoria do alto primeiro é pura, depois pacífica, gentil, doadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, incontroversa e não fingida. Ela não precisa cultivar conhecimento do mal; ela conhece o bem em Cristo, está satisfeita e adora. Ela ouve e ama a voz do Pastor; a voz de um estranho, não conhece e não o seguirá[1].



[1] N. do A.: “Notes on the Epistle to the Romans” por William Kelly. 

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