terça-feira, 29 de setembro de 2020

Não se Trata de Nós

Deus busca adoração mais que ministério[1]. Isso não é algo novo para esta dispensação. O livro de Levítico, com sua descrição detalhada da adoração sob a lei, vem antes do livro de Números, que aborda o assunto do serviço. Na adoração, o homem fala a Deus, enquanto no ministério Deus usa Seu servo para atender às necessidades do homem. Quando os discípulos repreenderam Maria por desperdiçar o unguento em Jesus, um ato de adoração, a resposta do Senhor foi: Deixai-a; para o dia da Minha sepultura guardou isto; Porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a Mim nem sempre Me tendes” (Jo 12:7-8). O Senhor não Se importava com os pobres? Certamente que sim. Não se pode ler os evangelhos e chegar a qualquer outra conclusão. Paulo escreveu aos gálatas: Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres: o que também procurei fazer com diligência(Gl 2:10). E ainda assim, a adoração deve ter precedência, mesmo sobre o nosso serviço aos pobres. De fato, não podemos estar corretamente motivados para servir os pobres, a menos que Cristo antes de tudo encha nosso coração. O serviço não pode ser separado de Cristo sob pena de torná-lo um esforço inteiramente humano.

Quando adoramos, devemos ter cuidado para não nos ocuparmos conosco. Sob a lei, os sacrifícios trazidos ano após ano eram lembranças constantes do pecado. “Nestes sacrifícios, porém, há recordação de pecados todos os anos” (Hb 10:3 – TB). A adoração Cristã, por outro lado, repousa sobre o pleno conhecimento dos pecados perdoados. Focar em nossa natureza caída e naquilo de que fomos salvos, ou em nossas falhas atuais, ou, a propósito, em qualquer coisa que traga nós ao cenário, degrada a adoração.

Às vezes, podemos sentir que, se entendêssemos um pouco melhor nossa total devassidão, então entenderíamos um pouco melhor a grandeza do amor de Deus. É importante ver que “na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18), caso contrário, orgulho e carne se mostrarão na adoração. Mas também precisamos reconhecer que nunca podemos entender o amor de Deus olhando para dentro de nós mesmos ou para este mundo ao nosso redor. Devemos olhar para o Próprio Deus, “Porque Deus é amor” (1 Jo 4:8). E a maior expressão desse amor foi quando Ele enviou Seu Filho para morrer: “Por isto conhecemos o amor, porque Cristo deu a Sua vida por nós” (1 Jo 3:16 – TB). Somente isso produzirá uma resposta em nosso coração: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19 – ARA).

Repetindo: a autocontemplação não produzirá adoração; devemos estar ocupados com o Pai e o Filho. Adoramos por causa de nossas bênçãos, não para celebrá-las. Nossa adoração deve estar focada no Libertador e menos em nossa libertação. Lembre-se de que a obra que o Senhor Jesus realizou em nosso lugar não se compara à Sua obra de propiciação. Nesta última, Cristo justificou plenamente o caráter santo e justo de Deus e trouxe glória incalculável ao Seu nome.

Quando um homem ama uma jovem, ela preenche completamente seus pensamentos: trata-se menos do que ela faz por ele (e certamente não do que ele faz por ela); ao contrário, tudo gira em torno dela! Sua beleza, a entonação de sua voz, a expressão de seu rosto, seus olhos! Reverentemente falando, já olhamos para Deus dessa maneira, ou Ele é uma figura distante, sombria e severa? Se sim, então não conhecemos o amor de Deus e não estamos em uma boa posição para adorar. A adoração eleva-se ao Próprio Deus, e o coração se perde na contemplação de Suas excelências.

Se não passarmos tempo na presença de Deus durante a semana, na quietude da meditação, descansando na beleza de Seu amor, não teremos muito a oferecer em adoração no dia do Senhor. Quando começamos a ver o verdadeiro caráter da adoração, isso muda completamente a maneira como a vemos. Há uma reverência por Sua presença santa e inspiradora.



[1] N. do A.: A palavra ministro do modo que é usada nas Escrituras não significa nada além de servo.

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