Embora eu tenha dito
anteriormente que a comunhão Cristã deveria refletir a verdade de um só corpo,
essas duas coisas, a comunhão e o um só corpo – não são a mesma coisa.
Existem crentes com os quais não podemos
compartilhar comunhão, embora eles sejam membros do corpo de Cristo. Na
primeira carta de Paulo aos Coríntios, ele aborda um caso particularmente.
Havia um entre os crentes em Corinto conhecido por sua imoralidade. Em vez de
lamentar, a igreja de Corinto se gloriou na situação – talvez se orgulhassem de
sua mente aberta ou do amor que tinham estendido a ele. Paulo fala a eles vigorosamente
e diz “Tirai pois dentre vós a esse
iníquo” (1 Co 5:13). “Não é boa a
vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?”
(1 Co 5:6) Que somos contaminados pela associação já foi outrora bem entendido;
a mim me parece que o que nos fez esquecer esse princípio seja a característica
peculiar dos dias atuais com sua aceitação liberal de tudo. Um pouco de
fermento leveda toda a massa.
No décimo capítulo da
Primeira carta aos Coríntios, Paulo aborda o problema de se comer de forma
consciente e pública a comida oferecida aos ídolos. Neste capítulo, três
círculos de comunhão são identificados[1]:
Quando um israelita oferecia sua oferta pacífica, o sangue e a gordura eram de
Jeová, mas o restante era para os sacerdotes, o ofertante e seus amigos. Todos
os que estivessem limpos podiam participar da oferta juntos (Lv 7:19). Ao
fazê-lo, comunhão era expressada, tanto com o altar que ele representava, como
com aqueles que comiam juntos. Tendo estabelecido esse princípio, o apóstolo
considerou o que significava para aqueles que comiam comida oferecida em um
banquete idólatra. A comida em si não era o problema – como o restante do capítulo
aponta – pelo contrário, foi o ato de comunhão em comer que foi crítico. Aquele
que participava de um banquete desse tipo se identificava com o ídolo e, como
resultado, com um demônio. Não podemos misturar nossa comunhão com o Senhor e
com os demônios. “Não podeis beber o
cálice do Senhor e o cálice dos demônios: não podeis ser participantes da mesa
do Senhor e da mesa dos demônios” (1 Co 10:21).
Embora o israelita
que comia a oferta pacífica certamente não se identificasse com demônios,
aprendemos em outro lugar que ele também não tinha lugar à Mesa do Senhor. Sua
comunhão o identificava com aquilo que havia sido colocado de lado no
Cristianismo. “Temos um altar, de que
não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo” (Hb 13:10).
É por causa dessa
conexão entre comer e comunhão, e o princípio da identificação por meio de
associação, que Paulo disse aos Cristãos de Corinto para não comerem com alguém
que foi colocado fora da assembleia. “Mas
agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for
devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:11).
Embora
possamos reagir à imoralidade quando a vemos, somos menos aptos a nos separar
do mal doutrinário ou eclesiástico[2]. E, no entanto, essas coisas são tão perigosas, talvez até
mais. Enquanto o mal moral inquestionavelmente enfraquece o testemunho Cristão,
o mal doutrinal e eclesiástico definitivamente divide os santos de Deus. Paulo
abordou a divisão em sua carta aos Coríntios antes de abordar questões morais. A Palavra de Deus nos dá uma
orientação clara quanto a estas coisas: “Noteis
os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes:
desviai-vos deles” (Rm 16:17). “Ao
homem herege[3], depois de
uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3:10).
Em sua segunda carta
a Timóteo, Paulo considera um dia em que a casa de Deus se tornaria uma grande
casa admitindo todos os tipos de males. Alguém pode negar que vivemos em tal
dia? “Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora
numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e
de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém
se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso
do Senhor, e preparado para
toda a boa obra. Foge também dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”
(2 Tm 2:19-22). A Cristandade não pode ser reformada. Não há sugestão
nesses versículos de se consertar o estado da profissão Cristã. Em vez disso, o
recurso para os piedosos é separar-se, não apenas do mal, mas também das
pessoas associadas ao mal. Frequentemente usa-se como defesa: “Mas posso ser mais útil aqui”. Mas se
realmente queremos ser “idôneos para uso
do Senhor [Mestre – JND]”, devemos nos purificar de tudo o que
é desonroso para Ele. Não podemos fazer isso, no entanto, quando nossa própria
caminhada não está apropriada à posição que temos tomado. Fazê-lo é um
legalismo vazio.
Não devemos, no entanto, viver
nossa vida isoladamente. Devemos andar com
os que, com um coração puro,
invocam o Senhor. Há uma promessa no final da advertência de Paulo
no sexto capítulo de Segunda a Coríntios: “Pelo que saí do meio deles, e
apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; E Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim
filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso” (2 Co
6:17-18). Deus nunca nos separa de algo, sem colocar diante de nós algo melhor.
Ele nunca será devedor a homem algum.
Quando a Escritura exige
separação, fazemos bem em seguir sua instrução. Não somos mais sábios que Deus.
De maneira alguma, porém, isso significa que abandonaremos alegremente nossos
laços com outros crentes. Longe disso! A separação deve vir com um sentimento
de tristeza e perda. Quando Davi separou-se de Jônatas, houve choro – com a dor
de Davi excedendo a de Jônatas. “E beijaram-se um ao outro, e
choraram juntos, até que Davi chorou muito mais” (1 Sm
20:41). A afeição de Davi por Jônatas mudou depois disso? Não, nunca
desvaneceu. O relacionamento deles era o mesmo? Não, como poderia ser? Depois
não lemos uma só vez sobre Davi ter descido a Jônatas. Há, porém mais um relato
deles estando juntos. Mas para tal, Jônatas é que teve de subir até Davi no
deserto de Zife. Temos até registrado que Jônatas “confortou a sua mão (a de Davi)
em Deus” (1 Sm
23:16). Que doce comunhão que deve ter sido. Infelizmente, a fé de Jônatas não
foi suficiente para seguir Davi em sua rejeição; em vez disso, ele voltou para
sua própria casa. “Davi ficou no bosque,
e Jônatas voltou para a sua casa” (1 Sm 23:18). Até onde sabemos, Davi
nunca mais viu Jônatas vivo.
[1]
N. do A.: Apenas
um é Cristão.
[2] N. do A.: Concernente ao caráter e operação da Igreja.
[3]
N. do A.: Um
herege é simplesmente alguém que cria uma divisão por asseverar sua própria
vontade.
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