“Meus
irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações”
(Tg 1:2). Dificilmente parecerá justo que Deus nos peça gozo em nossas
provações. De fato, em outro lugar, lemos: “E,
na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de
tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados
por ela” (Hb 12:11). Então, como devemos entender o versículo em Tiago?
Tudo tem a ver com contexto. O livro de Tiago fala de nossa demonstração exterior
de fé diante dos outros. Como reagimos a uma provação: é com raiva, desespero
ou até mesmo indiferença? Nada disso é consistente com um caminhar de fé. O
capítulo 12 de Hebreus, por outro lado, aborda a mão corretiva de Deus sobre
nós. Se formos verdadeiramente exercitados pela experiência, sentiremos uma tristeza segundo Deus (2
Co 7:10). No entanto, mesmo nessas provações, há um aspecto em que podemos nos regozijar
– e tenho certeza de que é disso que, pelo menos em parte, Tiago fala. Um pai,
que permite que uma criança aja de acordo com sua própria vontade, não é
amoroso nem gentil. Mas temos um Pai que nos ama demais para isso. Nunca
esqueçamos de que Deus não deixa de ser um Deus amoroso e misericordioso, mesmo
no meio da provação. Confiar n’Ele, sabendo que Ele nunca erra, e que Ele tem
em vista o nosso melhor, nos dará uma grande paz. “Tu conservarás em paz aquele
cuja mente está firme em ti; porque ele confia em Ti”
(Is 26:3). Como diz o escritor do hino, o Pai nunca causa a Seu filho uma
lágrima desnecessária:
Nossas
horas estão em Tuas mãos;
Quaisquer
que sejam,
Agradáveis
ou dolorosas, escuras ou brilhantes,
O
melhor que Te parecer.
Nossas
horas estão em Tuas mãos;
Por
que deveríamos duvidar ou temer?
A mão do Pai nunca causará a Seu filho, uma lágrima
desnecessária.[1]
Ao escrever aos romanos, o
apóstolo Paulo diz: “Quanto à esperança,
regozijai-vos: quanto a tribulação, suportai-a: quando à oração, perseverai” (Rm 12:12 – JND). Aqui temos um
desses elos entre esperança e tribulação. Como alguém que sobe um caminho
rochoso em uma montanha íngreme, a tribulação requer paciência e resistência. Regozijemo-nos,
no entanto, pela perspectiva de dias mais brilhantes pela frente – sejam eles
aqui ou na glória. Além disso, temos a Palavra de Deus para assegurar-nos de
que nunca seremos provados além do nosso limite (1 Co 10:13). Nunca precisamos
dizer: “Não tenho certeza se vou
conseguir”. Mas há algo mais: o apóstolo menciona a oração. Não apenas uma
oração, mas perseverar em oração.
Paciência põe de lado nossas vontades. Como resultado, somos levados à
dependência de Deus; é a oração que nos sustenta no caminho da dependência. O
Senhor Jesus é o nosso Exemplo; no evangelho de Lucas, frequentemente
encontramos o Filho do Homem em atitude de oração: “Porém
Ele retirava-Se para os desertos, e ali orava” (Lc 5:16). Paulo exorta os crentes
filipenses: “Não estejais inquietos por coisa
alguma: antes as vossas petições sejam em
tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e
os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp
4:6-7).
Não precisamos supor que nosso
caminho será sempre difícil e sombrio. Deus nos proporciona momentos de
descanso nas tempestades da vida. É sempre tentador recorrer ao mundo em busca
de alívio e de um momento de luz, mas isso provará ser vazio e insatisfatório.
Como Davi, o melhor refúgio pode ser simplesmente uma caverna isolada com o
Senhor (Sl 142).
De todo vento tempestuoso que sopra,
De cada maré crescente de aflições,
Há um retiro calmo, doce;
Foi encontrado diante do trono da graça [2]
Ao percorrermos os evangelhos,
lemos sobre o Senhor passando por momentos calmos, longe do tumulto da
multidão. Independentemente das pequenas tréguas que podemos desfrutar, este
mundo não é o nosso lar. Se nos sentimos fora de lugar, é porque estamos fora
de lugar.
Quando ouvimos alguém dizer: “Você não sabe como eu me sinto”, isso é
bem verdade. Humanamente não podemos entrar nos sentimentos de outra pessoa. Se
tivermos passado por circunstâncias semelhantes, podemos ser capazes de ter
empatia. Mais do que isso, deveríamos compartilhar o conforto que
experimentamos em nossa provação (2 Co 1:4). No entanto, nunca podemos
realmente dizer: “Eu sei exatamente como
você se sente”. Há Um, no entanto, que pode dizer isso. Mesmo quando nos
sentimos sós e incompreendidos, podemos levar nosso fardo ao Senhor Jesus e ter
certeza de que Ele entende: “Porque não temos um Sumo Sacerdote
que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo
foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da
graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos
ajudados em tempo oportuno” (Hb
4:15-16).
[1] N. do A.: “Our Times are in Thy
Hands” William F.
Lloyd (1791-1853).
[2] N. do A.: “From Every Stormy Wind
that Blows” Hugh
Stowell (1799-1865).
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