terça-feira, 29 de setembro de 2020

Paz e Gozo em Tempos de Provação

“Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações” (Tg 1:2). Dificilmente parecerá justo que Deus nos peça gozo em nossas provações. De fato, em outro lugar, lemos: E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:11). Então, como devemos entender o versículo em Tiago? Tudo tem a ver com contexto. O livro de Tiago fala de nossa demonstração exterior de fé diante dos outros. Como reagimos a uma provação: é com raiva, desespero ou até mesmo indiferença? Nada disso é consistente com um caminhar de fé. O capítulo 12 de Hebreus, por outro lado, aborda a mão corretiva de Deus sobre nós. Se formos verdadeiramente exercitados pela experiência, sentiremos uma tristeza segundo Deus (2 Co 7:10). No entanto, mesmo nessas provações, há um aspecto em que podemos nos regozijar – e tenho certeza de que é disso que, pelo menos em parte, Tiago fala. Um pai, que permite que uma criança aja de acordo com sua própria vontade, não é amoroso nem gentil. Mas temos um Pai que nos ama demais para isso. Nunca esqueçamos de que Deus não deixa de ser um Deus amoroso e misericordioso, mesmo no meio da provação. Confiar n’Ele, sabendo que Ele nunca erra, e que Ele tem em vista o nosso melhor, nos dará uma grande paz. “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em Ti (Is 26:3). Como diz o escritor do hino, o Pai nunca causa a Seu filho uma lágrima desnecessária:

 

Nossas horas estão em Tuas mãos;

Quaisquer que sejam,

Agradáveis ou dolorosas, escuras ou brilhantes,

O melhor que Te parecer.

Nossas horas estão em Tuas mãos;

Por que deveríamos duvidar ou temer?

A mão do Pai nunca causará a Seu filho, uma lágrima desnecessária.[1]

 

Ao escrever aos romanos, o apóstolo Paulo diz: “Quanto à esperança, regozijai-vos: quanto a tribulação, suportai-a: quando à oração, perseverai (Rm 12:12 – JND). Aqui temos um desses elos entre esperança e tribulação. Como alguém que sobe um caminho rochoso em uma montanha íngreme, a tribulação requer paciência e resistência. Regozijemo-nos, no entanto, pela perspectiva de dias mais brilhantes pela frente – sejam eles aqui ou na glória. Além disso, temos a Palavra de Deus para assegurar-nos de que nunca seremos provados além do nosso limite (1 Co 10:13). Nunca precisamos dizer: “Não tenho certeza se vou conseguir”. Mas há algo mais: o apóstolo menciona a oração. Não apenas uma oração, mas perseverar em oração. Paciência põe de lado nossas vontades. Como resultado, somos levados à dependência de Deus; é a oração que nos sustenta no caminho da dependência. O Senhor Jesus é o nosso Exemplo; no evangelho de Lucas, frequentemente encontramos o Filho do Homem em atitude de oração: Porém Ele retirava-Se para os desertos, e ali orava (Lc 5:16). Paulo exorta os crentes filipenses: Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus (Fp 4:6-7).

Não precisamos supor que nosso caminho será sempre difícil e sombrio. Deus nos proporciona momentos de descanso nas tempestades da vida. É sempre tentador recorrer ao mundo em busca de alívio e de um momento de luz, mas isso provará ser vazio e insatisfatório. Como Davi, o melhor refúgio pode ser simplesmente uma caverna isolada com o Senhor (Sl 142).

 

De todo vento tempestuoso que sopra,

De cada maré crescente de aflições,

Há um retiro calmo, doce;

Foi encontrado diante do trono da graça [2]

 

Ao percorrermos os evangelhos, lemos sobre o Senhor passando por momentos calmos, longe do tumulto da multidão. Independentemente das pequenas tréguas que podemos desfrutar, este mundo não é o nosso lar. Se nos sentimos fora de lugar, é porque estamos fora de lugar.

Quando ouvimos alguém dizer: “Você não sabe como eu me sinto”, isso é bem verdade. Humanamente não podemos entrar nos sentimentos de outra pessoa. Se tivermos passado por circunstâncias semelhantes, podemos ser capazes de ter empatia. Mais do que isso, deveríamos compartilhar o conforto que experimentamos em nossa provação (2 Co 1:4). No entanto, nunca podemos realmente dizer: “Eu sei exatamente como você se sente”. Há Um, no entanto, que pode dizer isso. Mesmo quando nos sentimos sós e incompreendidos, podemos levar nosso fardo ao Senhor Jesus e ter certeza de que Ele entende: Porque não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hb 4:15-16).



[1] N. do A.: “Our Times are in Thy Hands” William F. Lloyd (1791-1853).

[2] N. do A.: “From Every Stormy Wind that Blows” Hugh Stowell (1799-1865).

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