Enquanto a origem do
conflito na Galácia possa ser atribuída às más doutrinas e aos que a
promoveram, a situação em Filipos foi muito diferente. A carta de Paulo aos
filipenses não é corretiva. De fato, eles parecem ter passado por nada além de
provações esperadas na jornada no deserto. No entanto, Paulo estava na prisão e
estava preocupado com o bem-estar deles durante sua ausência. Sua carta não é diferente
da admoestação de José a seus irmãos: “E
não vos pese cousa alguma...;
não contendais pelo caminho” (Gn
45:20, 24). Destes versículos, especialmente o segundo parece ter estado na
mente de Paulo.
No primeiro capítulo,
encontramos algo da condição geral das coisas na Cristandade. Paulo estava na
prisão[1]
e, embora o evangelho fosse pregado, havia pouco a trazer-lhe gozo – ainda
assim ele se regozijava. “Alguns pregam
a Cristo por inveja e porfia” (Fp 1:15). Sim, até mesmo o evangelho pode
ser apresentado com inveja e contenda! Pregamos o evangelho para ganhar almas,
não para ganhar troféus. No final desse capítulo, começamos a ouvir sobre a
preocupação do apóstolo pela assembleia em Filipos: “estais num mesmo
espírito... com o mesmo ânimo”
(Fp 1:27). No segundo capítulo, Paulo se expressa mais plenamente. A assembleia
enviou-lhe uma oferta de comunhão (Fp 1:5; 4:10), mas se eles o quisessem
completamente feliz, ele tinha de saber que estavam juntos sem discórdia. “Completai o meu gozo, para que sintais o
mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória,
mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp
2:2-3). Como podemos fazer isso? Como podemos sentir o mesmo? É chegando a um
acordo comum? Não, só há um caminho: “De
sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2:5). É somente tendo a
mente de Cristo que poderemos prosseguir em paz e harmonia. Muito mais poderia
ser dito, mas o espaço não permite – leia este capítulo e medite sobre ele,
tendo em mente o assunto[2].
O terceiro capítulo
começa com avisos não muito diferentes dos encontrados no livro de Gálatas. No
entanto, enquanto os mestres judaizantes fizeram o trabalho maligno na Galácia
– “Corríeis bem; quem vos impediu, para
que não obedeçais à verdade?” (Gl 5:7) – em Filipos, os santos são
simplesmente avisados do perigo. O perigo, no entanto, era muito real. Qualquer
coisa que nos desvie e tire nossos olhos da “soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:14) não só nos
fará tropeçar espiritualmente, mas também resultará em conflito carnal no
caminho Cristão (vs. 15-17). Devemos ter um objetivo diante de nós: Cristo. O
apóstolo pôde escrever: “Prossigo para o
alvo” (Fp 3:14). A correta condição espiritual é encontrada no segundo
capítulo, mas a energia da fé e o propósito do coração são expressos no
terceiro.
No capítulo quatro,
temos uma aplicação muito prática dos capítulos anteriores. Em Filipos, existia
um conflito entre duas mulheres, Evódia e Síntique. Paulo não diz “trabalhem
juntas” ou “resolvam suas diferenças”; ele nem mesmo lhes pede para
“se darem bem”. Nenhuma dessas coisas chega à raiz do problema e, na
prática, elas não funcionam. Havia apenas uma maneira de remover o conflito: “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que
sintam o mesmo [sejam de
mesma mente – JND] no Senhor” (Fp 4:2). E que
mente é essa? É a mente de Cristo. “De
sorte que haja em vós o mesmo sentimento [a mesma mente – JND]
que houve também em Cristo
Jesus. Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.
Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante
aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo
obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:5-8). Com muita frequência,
nosso foco é a outra pessoa. Isso não leva ao não envolvimento, mas sim ao confronto.
É somente quando fazemos do Senhor Jesus Cristo nosso foco, que as coisas
começam a ganhar a perspectiva correta. A proximidade de Cristo nos permitirá
ver a outra pessoa como Ele a vê, e nossos pensamentos serão formados por Seus
pensamentos.
Estariam os outros
indiferentes ao conflito? Não, o apóstolo apela a um irmão local para ajudar: “E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes
essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho” (Fp 4:3). Quando
ocorre um conflito, gostamos de manter distância, e é fácil entender o porquê.
É preciso discernimento para saber quando ajudar. As coisas podem facilmente
sair do controle quando tomamos partido, ou quando alguém não é qualificado
espiritualmente (Gl 6:1). O Senhor, porém, diz: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5:9)
[1]
N. do A.: Figurativamente,
isto também se aplica à doutrina de Paulo.
[2]
N. do A.: Consequentemente,
o versículo 12 fala da assembleia – não de salvação individual.
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