terça-feira, 29 de setembro de 2020

Como Eu Poderia ser de Alguma Utilidade para Deus?

Só porque somos salvos e, como aprendemos no primeiro capítulo, transformados, isso não significa que deixamos de ser quem somos. Deus usou a ousadia e o intelecto de Paulo para realizar Seus fins. Daniel, de descendência real, era um tremendo administrador civil e Deus o usou onde Ele o colocou. Pedro, o líder natural, tornou-se pastor dos pastores (1 Pe 5:1-4). Talvez, no entanto, não vejamos forças em nós mesmos, mas apenas fraquezas. Inquestionavelmente, se insistirmos nelas, ficaremos desencorajados. No entanto, devemos ter ânimo; Deus pode usar até nossa fraqueza! Existem muitos exemplos de indivíduos na Escritura cuja personalidade e fraquezas podemos relacionar a nós, e ainda assim, Deus precisava de cada um deles: Abraão, Sara, Isaque, Jacó, Davi, Jeremias, Neemias, Pedro, Paulo, Timóteo, todos vêm à mente. De fato, acredito que é consistente com a Escritura dizer que, se não fosse pelas fraquezas deles, Deus não poderia ter usado esses homens.

Deveríamos ter cuidado, no entanto. É errado dizer, “bem, eu sou o que sou”, para justificar o mau comportamento (Gl 5:19-21; Tg 3:14-15). A Escritura deixa claro que devemos deixar de lado o velho homem e as obras da carne; não há dúvida disso (Ef 4:22; Cl 3:8-9). No entanto, Paulo poderia dizer: Mas pela graça de Deus sou o que sou(1 Co 15:10). Antes de sua conversão, Paulo era: blasfemo, e perseguidor, e um insolente arrogante homem (1 Tm 1:13 – JND). Em contraste nítido, depois ele pôde dizer: Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos (1 Ts 2:7). Nossa conduta deve mudar com a nossa salvação, mas isso não significa que perdemos a personalidade única que Deus nos deu.

A fé de Timóteo não o transformou em um pregador extrovertido e destemido. Se assim fosse, Paulo não precisaria ter escrito: “lembrando-me das tuas lágrimas... Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há... Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti” (2 Tm 1:4-6). Se andávamos mancando antes de sermos salvos, andaremos mancando depois de termos sido salvos. Não desejo limitar o poder de Deus para curar, se Ele assim o desejar – tanto as doenças físicas quanto as mentais –, no entanto, Ele também pode decidir que Seus propósitos são para não nos curar. O apóstolo Paulo teve de aprender isso. “Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo... Porque quando estou fraco então sou forte (2 Co 12:8-10).

Timóteo não era apenas tímido; ele também tinha a saúde frágil. Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago, e das tuas frequentes enfermidades (1 Tm 5:23). No entanto, enquanto estamos sempre prontos para desculpar um companheiro crente por suas limitações físicas, quando se trata de problemas mentais ou emocionais, não somos tão generosos. Achamos que claramente eles não estão confiando em Deus! Apesar disso, as coisas não são assim tão curtas e grossas. Nem toda fraqueza mental ou emocional é espiritual. Invariavelmente, há uma mistura de ambos. Não importa a fraqueza, Satanás procurará explorá-la – sim, até nossas limitações físicas. Precisamos estar em guarda contra isso.

Foram as qualidades únicas de Timóteo que o tornaram um tão grande recurso para o apóstolo. Encontramos outra alusão sobre a personalidade de Timóteo na carta de Paulo aos Filipenses. “E espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo dos vossos negócios. Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado(Fp 2:19-20). A palavra cuide poderia ter sido traduzida pela expressão “esteja ansioso por. Na mão de Deus, a natureza sensível de Timóteo era uma característica muito útil.

Tiago escreve sobre Elias: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós” (Tg 5:17). Seria um erro supor que esses homens de fé eram super-humanos. Tal absurdo é da esfera do mito e da lenda. O poderoso Elias, que sozinho resistiu aos profetas de Baal, tornou-se muito desanimado – provavelmente diríamos que ele estava deprimido. “E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro: e pediu em seu ânimo a morte, e disse: Já basta, ó Senhor: toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais” (1 Rs 19:4). Não vou ao ponto de sugerir que Elias fosse um suicida. No entanto, ele se sentiu tão inútil que pediu a Deus que acabasse com sua vida.

A raiz do problema de Elias pode ser encontrada na expressão “Não sou melhor do que meus pais” (1 Rs 19:4). Realmente! É assim que nos medimos? Antes, quando confrontou os profetas iníquos de Baal, ele disse: Eu, somente eu mesmo, fiquei por profeta do Senhor” (1 Rs 18:22 – KJV). Sabemos que isso não era verdade; no capítulo 20, Deus fala por meio de outro profeta, embora sem nomeá-lo. Além disso, Elias teve de aprender que havia 7.000, que embora um remanescente silencioso, nunca se curvou a Baal. Quando nossos pensamentos se voltam para nosso interior, nos colocamos em terreno perigoso. Como Elias, podemos começar com um espírito no pico de uma montanha, mas quando nos esquecemos da fonte de nossa força e nos tornamos confiantes em nossas próprias habilidades e importância, as coisas rapidamente são desvendadas. De fato, é bem possível que as coisas cheguem a um ponto em que Deus não possa mais nos usar. Isso é muito sério; a obra de Deus ainda será feita, mas talvez possa não mais ser realizada por meio de nós. No caso de Elias, ele foi enviado para ungir Eliseu como profeta em seu lugar (1 Rs 19:16). Deus simplesmente descartou Elias depois disso? Não, de jeito nenhum! Sua ocupação na Terra estava quase no fim, e seu ministério estava quase terminado, mas acredito que Elias havia aprendido uma lição importante. Deus nem sempre age por meio de grandes demonstrações exteriores de poder que fazem o servo de Deus parecer bom. Às vezes é apenas uma voz mansa e delicada (1 Rs 19:12). No final, Deus levou Elias ao céu em um redemoinho na presença de um carro e cavalos de fogo (2 Rs 2). Ele nunca morreu apesar de haver pedido isso! Extraordinário! Apenas temos de estar maravilhados com os caminhos de Deus.

Abraão falhou por temer o homem e, no entanto, ele é o pai da fé. “Abraão... peregrinou em Gerar. E havendo Abraão dito de Sara sua mulher: É minha irmã, enviou Abimeleque, rei de Gerar, e tomou a Sara. E disse Abraão: porque eu dizia comigo: certamente não temor de Deus neste lugar, e eles me matarão por amor da minha mulher (Gn 20:1-2, 11). Embora o medo do homem seja uma cilada (Pv 29:25), o medo em si não é uma característica ruim. Uma dose saudável de medo nos impede de fazer coisas tolas; além disso, nos faz confiar em Deus, em vez de em nossas próprias habilidades.

Timidez, depressão, medo, essas são todas coisas que nos tornam quem somos. Não devemos esperar que Deus necessariamente as remova quando somos salvos. Em vez disso, essas fraquezas podem se tornar uma fonte de força em Suas mãos. Podemos nunca ser o pregador que Paulo era, mas isso não limita nossa utilidade; precisamos nos render a Deus e permitir que Ele trabalhe por meio de nós. Embora eu tenha usado Paulo como um exemplo de ousadia, ele estava frequentemente em circunstâncias extremas e foi por meio dessas experiências que aprendeu na prática: “Posso todas as coisas naqu’Ele que me fortalece” (Fp 4:13). Existem muitas maneiras diferentes pelas quais Deus pode usar alguém que esteja disposto a se entregar a Ele, com suas fraquezas e tudo mais. Estamos, no entanto, muito dispostos a dar desculpas.

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