Só porque
somos salvos e, como aprendemos no primeiro capítulo, transformados, isso não significa que deixamos de ser quem somos.
Deus usou a ousadia e o intelecto de Paulo para realizar Seus fins. Daniel, de descendência
real, era um tremendo administrador civil e Deus o usou onde Ele o colocou. Pedro,
o líder natural, tornou-se pastor dos pastores (1 Pe 5:1-4). Talvez, no
entanto, não vejamos forças em nós mesmos, mas apenas fraquezas.
Inquestionavelmente, se insistirmos nelas, ficaremos
desencorajados. No entanto, devemos ter ânimo; Deus pode usar até nossa
fraqueza! Existem muitos exemplos de indivíduos na Escritura cuja personalidade
e fraquezas podemos relacionar a nós, e ainda assim, Deus precisava de cada um
deles: Abraão, Sara, Isaque, Jacó, Davi, Jeremias, Neemias, Pedro, Paulo, Timóteo,
todos vêm à mente. De fato, acredito que é consistente com a Escritura dizer
que, se não fosse pelas fraquezas deles, Deus não poderia ter usado esses
homens.
Deveríamos ter cuidado, no
entanto. É errado dizer, “bem, eu sou o
que sou”, para justificar o mau comportamento (Gl 5:19-21; Tg 3:14-15). A Escritura
deixa claro que devemos deixar de lado o velho homem e as obras da carne; não
há dúvida disso (Ef 4:22; Cl 3:8-9). No entanto, Paulo poderia dizer: “Mas pela graça de
Deus
sou o que sou” (1 Co
15:10). Antes de sua conversão, Paulo era: “blasfemo, e perseguidor, e um
insolente arrogante homem” (1 Tm
1:13 – JND). Em contraste nítido, depois ele pôde dizer: “Antes
fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos” (1 Ts 2:7). Nossa conduta deve
mudar com a nossa salvação, mas isso não significa que perdemos a personalidade
única que Deus nos deu.
A fé de Timóteo não o
transformou em um pregador extrovertido e destemido. Se assim fosse, Paulo não
precisaria ter escrito: “lembrando-me
das tuas lágrimas... Trazendo à
memória a fé não fingida que em ti há... Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em
ti” (2 Tm 1:4-6). Se andávamos mancando antes de sermos salvos, andaremos
mancando depois de termos sido salvos. Não desejo limitar o poder de Deus para
curar, se Ele assim o desejar – tanto as doenças físicas quanto as mentais –,
no entanto, Ele também pode decidir que Seus propósitos são para não nos curar. O apóstolo Paulo teve de
aprender isso. “Acerca do qual três
vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A Minha graça te
basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa
na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para
que em mim habite o poder de Cristo...
Porque quando estou fraco então sou forte”
(2 Co 12:8-10).
Timóteo não era apenas tímido;
ele também tinha a saúde frágil. “Não bebas mais água só, mas usa
de um pouco de vinho, por causa do teu estômago, e das tuas frequentes enfermidades” (1 Tm
5:23). No entanto, enquanto estamos sempre prontos para desculpar um companheiro
crente por suas limitações físicas, quando se trata de problemas mentais ou
emocionais, não somos tão generosos. Achamos
que claramente eles não estão confiando em Deus! Apesar disso, as coisas
não são assim tão curtas e grossas. Nem toda fraqueza mental ou emocional é
espiritual. Invariavelmente, há uma mistura de ambos. Não importa a fraqueza,
Satanás procurará explorá-la – sim, até nossas limitações físicas. Precisamos
estar em guarda contra isso.
Foram as qualidades
únicas de Timóteo que o tornaram um tão grande recurso para o apóstolo.
Encontramos outra alusão sobre a personalidade de Timóteo na carta de Paulo aos
Filipenses. “E espero no Senhor Jesus
que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo,
sabendo dos vossos negócios. Porque a
ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado” (Fp
2:19-20). A palavra cuide poderia ter
sido traduzida pela expressão “esteja
ansioso por”. Na mão de
Deus, a natureza sensível de Timóteo era uma característica muito útil.
Tiago escreve sobre
Elias: “Elias era homem sujeito às
mesmas paixões que nós” (Tg 5:17). Seria um erro supor que esses homens de
fé eram super-humanos. Tal absurdo é da esfera do mito e da lenda. O poderoso
Elias, que sozinho resistiu aos profetas de Baal, tornou-se muito desanimado –
provavelmente diríamos que ele estava deprimido. “E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou
debaixo de um zimbro: e pediu em seu
ânimo a morte, e disse: Já basta, ó Senhor: toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais”
(1 Rs 19:4). Não vou ao ponto de sugerir que Elias fosse um suicida. No
entanto, ele se sentiu tão inútil que pediu a Deus que acabasse com sua vida.
A raiz do problema de
Elias pode ser encontrada na expressão “Não
sou melhor do que meus pais” (1 Rs 19:4). Realmente! É assim que nos
medimos? Antes, quando confrontou os profetas iníquos de Baal, ele disse: “Eu,
somente eu mesmo, fiquei por profeta do Senhor” (1 Rs 18:22 – KJV).
Sabemos que isso não era verdade; no capítulo 20, Deus fala por meio de outro
profeta, embora sem nomeá-lo. Além disso, Elias teve de aprender que havia
7.000, que embora um remanescente silencioso, nunca se curvou a Baal. Quando nossos pensamentos se voltam para
nosso interior, nos colocamos em terreno perigoso. Como Elias, podemos começar com
um espírito no pico de uma montanha, mas quando nos esquecemos da fonte de
nossa força e nos tornamos confiantes em nossas próprias habilidades e
importância, as coisas rapidamente são desvendadas. De fato, é bem possível que
as coisas cheguem a um ponto em que Deus não possa mais nos usar. Isso é muito
sério; a obra de Deus ainda será feita, mas talvez possa não mais ser realizada
por meio de nós. No caso de Elias, ele foi enviado para ungir Eliseu como
profeta em seu lugar (1 Rs 19:16). Deus simplesmente descartou Elias depois
disso? Não, de jeito nenhum! Sua ocupação na Terra estava quase no fim, e seu
ministério estava quase terminado, mas acredito que Elias havia aprendido uma
lição importante. Deus nem sempre age por meio de grandes demonstrações exteriores
de poder que fazem o servo de Deus parecer bom. Às vezes é apenas uma voz mansa
e delicada (1 Rs 19:12). No final, Deus levou Elias ao céu em um redemoinho na
presença de um carro e cavalos de fogo (2 Rs 2). Ele nunca morreu apesar de haver pedido isso! Extraordinário! Apenas
temos de estar maravilhados com os caminhos de Deus.
Abraão falhou por
temer o homem e, no entanto, ele é o pai da fé. “Abraão... peregrinou em Gerar.
E havendo Abraão dito de Sara sua mulher: É minha irmã, enviou Abimeleque, rei de Gerar, e tomou a Sara. E
disse Abraão: porque eu dizia comigo: certamente não há temor de Deus neste lugar, e eles me matarão por amor da minha mulher” (Gn 20:1-2, 11).
Embora o medo do homem seja uma cilada (Pv 29:25), o medo em si não é uma
característica ruim. Uma dose saudável de medo nos impede de fazer coisas
tolas; além disso, nos faz confiar em Deus, em vez de em nossas próprias
habilidades.
Timidez, depressão, medo,
essas são todas coisas que nos tornam quem somos. Não devemos esperar que Deus
necessariamente as remova quando somos salvos. Em vez disso, essas fraquezas
podem se tornar uma fonte de força em Suas mãos. Podemos nunca ser o pregador
que Paulo era, mas isso não limita nossa utilidade; precisamos nos render a
Deus e permitir que Ele trabalhe por meio de nós. Embora eu tenha usado Paulo
como um exemplo de ousadia, ele estava frequentemente em circunstâncias
extremas e foi por meio dessas experiências que aprendeu na prática: “Posso todas as coisas naqu’Ele que me fortalece” (Fp 4:13). Existem
muitas maneiras diferentes pelas quais Deus pode usar alguém que esteja
disposto a se entregar a Ele, com suas fraquezas e tudo mais. Estamos, no
entanto, muito dispostos a dar desculpas.
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