terça-feira, 29 de setembro de 2020

Dom

Até agora, vimos um pouco do que a Escritura tem a dizer a respeito de nosso serviço, sem qualquer consideração ao dom. Cada um de nós, no entanto, recebeu um dom. O que estamos fazendo com ele? Está definhando pela falta de uso? Quando as coisas são populares e há uma resposta ao nosso serviço, não precisamos de muito esforço para exercitar nosso dom. Quando as coisas não estão indo tão bem, é então que gostamos de desistir. É nesses momentos que o dom é mais necessário. É exatamente isso que encontramos na segunda carta de Paulo a Timóteo. Paulo estava na prisão e toda a Ásia se afastara dele; as coisas pareciam sem esperança. E mesmo assim Paulo escreve: “Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti(2 Tm 1:6). Pedro também escreveu em um dia em que os Cristãos estavam sofrendo; sua exortação foi semelhante: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (1 Pe 4:10). Se servirmos homens, então, desistir quando tudo parece sem esperança, pode ser a coisa lógica a se fazer. Se, no entanto, nosso serviço é para Deus, então claramente importa apenas como Ele o percebe.

A palavra grega para dom é carisma. Esta palavra é provavelmente reconhecível, tanto por si mesma, como pela raiz da palavra carismático. Como essas palavras apontam, a Cristandade tem tristemente usado mal o dom, contrariamente ao claro ensino da Palavra de Deus. Não devemos supervalorizar o dom. Havia dons milagrosos – falar em línguas e curar – mas dons para edificação, exortação e conforto são superiores e devem ser desejados acima e sobre os dons de sinais (1 Co 12:31, 14:3). Cristo deu dons à Sua Igreja durante Sua ausência Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo (Ef 4:12). Dom não é para exaltação do homem, nem mesmo do Espírito de Deus – é para edificar a Igreja e exaltar a Cristo: Para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo (1 Pe 4:11).

Um erro comum é confundir habilidade com dom. Eu sugeriria que a habilidade natural é péssimo guia em relação ao dom. Certamente este foi o erro de Moisés. Ele não era um homem eloquente e estava bastante convencido de que seria incapaz de cumprir o serviço que Deus claramente o chamou para fazer. Muitas vezes Deus usa nossas fraquezas para realizar Seus fins. Gideão teve de aprender isto:Muito é o povo que está contigo, para eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel se não glorie contra Mim, dizendo: A minha mão me livrou(Jz 7:2). Zorobabel, na reconstrução do templo, também teve de aprender: “Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6). Paulo escreveu a respeito de si mesmo: “A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9).

Embora habilidade não seja um dom, Deus dá dons de acordo com a habilidade, conforme o versículo a seguir: “E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade [habilidade particular – JND], e ausentou-se logo para longe” (Mt 25:15). Moisés, Zorobabel e Paulo certamente tinham habilidades usadas por Deus. No entanto, a principal lição a ser aprendida é que não discernimos nosso dom olhando para nossas habilidades – ou seja, por introspecção. O perigo de raciocinar ao contrário, da habilidade para o dom, é que nos envolveremos naquilo que é desonroso a Deus. Infelizmente, muitos Cristãos foram apanhados pela indústria de entretenimento do mundo (apenas como um exemplo) porque caíram nessa armadilha.

Se estivermos verdadeiramente ocupados com Cristo e Sua obra, o Espírito de Deus colocará em nosso coração uma carga que somente nós poderemos carregar. Um versículo em Gálatas fala sobre isto: “Porque cada qual levará a sua própria carga” (Gl 6:5). A carga, como mencionada aqui, é nossa obra dada por Deus (ver versículo 4).

Se formos sensíveis à inspiração do Espírito Santo, acharemos essa obra tão convincente que ela não será opcional. Podemos ter certeza de que Deus nos preparou de maneira única para o Seu trabalho e nos deu o dom para realizá-lo.

E por fim, não nos chamamos e não procuramos o chamado dos outros; isso deve ser uma obra do Espírito de Deus: “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado (At 13:2). De maneira alguma isso significa que devemos ser indiferentes ao que nossos irmãos têm a dizer. Alguém que realmente procura fazer o serviço do Senhor desejará a comunhão de seus irmãos. Não haverá nada secreto em seus esforços. Independência de espírito implica que a vontade própria está em ação. Ignorar os conselhos e preocupações de outras pessoas, igualmente, serve para provar que a vontade própria está muito ativa. Depois de serem instruídos pelo Espírito Santo, os irmãos impuseram as mãos sobre Saulo e Barnabé e os despediram (At 13:3). A imposição de mãos não lhes conferiu seu ministério; antes, era um sinal de comunhão naquele ministério.

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