Até agora, vimos um pouco do que
a Escritura tem a dizer a respeito de nosso serviço, sem qualquer consideração
ao dom. Cada um de nós, no entanto, recebeu um dom. O que estamos fazendo com
ele? Está definhando pela falta de uso? Quando as coisas são populares e há uma
resposta ao nosso serviço, não precisamos de muito esforço para exercitar nosso
dom. Quando as coisas não estão indo tão bem, é então que gostamos de desistir.
É nesses momentos que o dom é mais necessário. É exatamente isso que
encontramos na segunda carta de Paulo a Timóteo. Paulo estava na prisão e toda
a Ásia se afastara dele; as coisas pareciam sem esperança. E mesmo assim Paulo
escreve: “Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti”
(2 Tm
1:6). Pedro também escreveu em um dia em que os Cristãos estavam sofrendo; sua
exortação foi semelhante: “Cada um administre aos outros o
dom como o recebeu como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4:10). Se servirmos
homens, então, desistir quando tudo parece sem esperança, pode ser a coisa
lógica a se fazer. Se, no entanto, nosso serviço é para Deus, então claramente
importa apenas como Ele o percebe.
A palavra grega para dom é carisma. Esta palavra é provavelmente
reconhecível, tanto por si mesma, como pela raiz da palavra carismático. Como essas palavras
apontam, a Cristandade tem tristemente usado mal o dom, contrariamente ao claro
ensino da Palavra de Deus. Não devemos supervalorizar o dom. Havia dons milagrosos – falar em línguas
e curar – mas dons para edificação, exortação e conforto são superiores e devem
ser desejados acima e sobre os dons de sinais (1 Co 12:31, 14:3). Cristo deu
dons à Sua Igreja durante Sua ausência “Querendo o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12). Dom não é para
exaltação do homem, nem mesmo do Espírito de Deus – é para edificar a Igreja e
exaltar a Cristo: “Para que em tudo Deus seja
glorificado por Jesus Cristo” (1 Pe
4:11).
Um erro comum é confundir habilidade com dom. Eu sugeriria que a
habilidade natural é péssimo guia em
relação ao dom. Certamente este foi o erro de Moisés. Ele não era um homem eloquente e estava bastante convencido de que
seria incapaz de cumprir o serviço que Deus claramente o chamou para fazer.
Muitas vezes Deus usa nossas fraquezas para
realizar Seus fins. Gideão teve de aprender isto:
“Muito é o povo que está
contigo, para eu dar aos
midianitas em sua mão; a fim de que Israel se não glorie contra Mim, dizendo: A
minha mão me livrou” (Jz 7:2). Zorobabel, na reconstrução do templo, também teve de aprender: “Não por força nem por violência,
mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6). Paulo escreveu a respeito de si mesmo: “A Minha graça te basta, porque o
Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9).
Embora habilidade não
seja um dom, Deus dá dons de acordo com a habilidade, conforme o versículo a
seguir: “E a um deu cinco talentos, e a
outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade [habilidade particular – JND], e ausentou-se logo para longe” (Mt
25:15). Moisés, Zorobabel e Paulo certamente tinham habilidades usadas por
Deus. No entanto, a principal lição a ser aprendida é que não discernimos nosso
dom olhando para nossas habilidades – ou seja, por introspecção. O perigo de
raciocinar ao contrário, da habilidade para o dom, é que nos envolveremos
naquilo que é desonroso a Deus. Infelizmente, muitos Cristãos foram apanhados
pela indústria de entretenimento do mundo (apenas como um exemplo) porque
caíram nessa armadilha.
Se estivermos
verdadeiramente ocupados com Cristo e Sua obra, o Espírito de Deus colocará em
nosso coração uma carga que somente nós poderemos carregar. Um versículo em
Gálatas fala sobre isto: “Porque cada
qual levará a sua própria carga” (Gl 6:5). A carga, como mencionada aqui, é
nossa obra dada por Deus (ver versículo 4).
Se formos sensíveis à
inspiração do Espírito Santo, acharemos essa obra tão convincente que ela não
será opcional. Podemos ter certeza de que Deus nos preparou de maneira única
para o Seu trabalho e nos deu o dom para realizá-lo.
E por fim, não nos
chamamos e não procuramos o chamado dos outros; isso deve ser uma obra do
Espírito de Deus: “E, servindo eles ao
Senhor, e jejuando, disse o Espírito
Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13:2). De maneira alguma isso
significa que devemos ser indiferentes ao que nossos irmãos têm a dizer. Alguém
que realmente procura fazer o serviço do Senhor desejará a comunhão de seus
irmãos. Não haverá nada secreto em seus esforços. Independência de espírito
implica que a vontade própria está em ação. Ignorar os conselhos e preocupações
de outras pessoas, igualmente, serve para provar que a vontade própria está
muito ativa. Depois de serem instruídos pelo Espírito Santo, os irmãos
impuseram as mãos sobre Saulo e Barnabé e os despediram (At 13:3). A imposição
de mãos não lhes conferiu seu ministério; antes, era um sinal de comunhão
naquele ministério.
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