terça-feira, 29 de setembro de 2020

Provações

O mundo olha ao redor e vê dor e sofrimento e pergunta: “Onde está Deus em tudo isso?” Naturalmente, remover Deus da cena não resolve o problema – isto apenas nos deixa em um mundo de dor e sofrimento, sem esperança. Longe de ser indiferente ao sofrimento, Deus sente tudo: “Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido” (Is 53:4). Vivemos em um mundo que excluiu Deus. Quando Ele enviou Seu Filho, eles disseram: “Este é o Herdeiro; vinde, matemo-Lo, para que a herança seja nossa” (Lc 20:14). Deveríamos nos surpreender com o caos e o sofrimento num mundo que não quer ter nada a ver com Deus? Embora não sejamos deste mundo, estamos neste mundo e sentimos os efeitos do pecado. Quando um furacão sopra, ou chega uma epidemia de gripe, eles afetam tanto o justo quanto o injusto. Enquanto os ímpios veem tudo como mero acaso, o crente vê nisso um propósito.

“Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações[1], Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação [Aparição – KJV] de Jesus Cristo” (1 Pe 1:6-7). Neste versículo, Pedro destaca quatro pontos importantes relacionados com as provações: 

  • Nossas provações são apenas um período – há um limite de tempo.
  • Há um “agora importa”; Deus não nos coloca caprichosamente em provações desnecessárias; cada circunstância de nossa vida é ordenada e calculada por Ele.
  • Somente metais preciosos são testados pelo fogo. Se Deus vê a necessidade de que passemos por uma provação, é porque Ele vê algo de valor em nós – somos mais preciosos do que o ouro.
  • As provações são, em última instância, para a glória de Deus. Quando o Senhor estava na Terra, estava em humilhação – os homens ficaram pasmados com o grau de humilhação (Is 52:14) – mas Ele retornará em glória e, além de admiração, iremos compartilhar dessa demonstração de glória.

Um erro comum é sempre supor que Deus está nos punindo em nossas provações. Os amigos de Jó tinham certeza de que ele havia feito algo terrivelmente mau para merecer o sofrimento pelo qual passou. Os discípulos caíram no mesmo erro quando perguntaram: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9:2) O homem vê a prosperidade como aprovação de Deus e provações como Sua censura. Esta é uma visão pobre de Deus e indigna do Cristianismo – é típica das religiões deste mundo. A resposta do Senhor aos Seus discípulos revela algo muito diferente e de um caráter muito mais elevado: “Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus(Jo 9:3). Por fim, como acabamos de ler na primeira epístola de Pedro, nossas provações serão para o louvor e a glória de Deus. Elas nos libertam de nós mesmos, desapegam-nos deste mundo, tornam-nos dependentes de Deus e nos colocam em conformidade prática com o Seu Filho.

Alguns sugeriram que existem quatro tipos diferentes de provações. Elas podem ser lembradas como os quatro “Pês”: 

  • Preventiva: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar” (2 Co 12:7).
  • Preparativa: “Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2 Co 1:4).
  • Purificadora: (Deus) limpa toda aquela (vara) que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15:2).
  • Punitiva: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11:30-31). 

A última, punitiva, é uma provação que resulta do pecado em nossa vida. Há provações em que as causas são conhecidas e reconhecemos nelas a mão de repreensão do Pai. O Pai dos espíritos nos ama demais para nos permitir seguir em nosso próprio caminho: “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6). Por outro lado, há provações que podemos não entender. Isso não deve nos levar a uma ocupação doentia de nós mesmos – onde nosso foco é para dentro e não para o alto. Ocupar-se consigo mesmo não deve ser confundido com o julgamento próprio. John Darby escreveu: “A ocupação consigo mesmo é a perdição da alma. O homem se torna o centro, e ele mesmo, o principal objeto na Terra. Por outro lado: o julgamento próprio é a obra do Espírito de Deus. Este não é o Seu trabalho mais peculiar, mas é muitas vezes, pela nossa falta de vigilância, o Seu trabalho necessário. Não há como voltar ao gozo da comunhão sem isso”[2] Deveríamos estar ocupados conosco apenas o tempo suficiente para julgar a nós mesmos.

Os três amigos de Jó cometeram o erro de fazê-lo se ocupar consigo mesmo. Suas falsas acusações eram prejudiciais. Eliú, por outro lado, dirigiu Jó para Deus. Ele não conseguiu explicar a tribulação de Jó, mas apontou na direção certa. Deus não estava punindo Jó nem agindo arbitrariamente. Havia uma necessidade na vida de Jó e Deus trabalhava muito com ele. Jó, em sua veemente defesa própria, esqueceu-se de que Deus estava com ele: “Porque eis que Eu estou convosco, e Eu Me voltarei para vós, e sereis lavrados e semeados (Ez 36:9). Somente quando Jó entrou na presença de Deus é que ele encontrou libertação.



[1] N. do A.: Na tradução KJV, a palavra tentação é frequentemente usada em lugar da palavra provação. Uma é um teste interior, enquanto a outra é exterior. No grego, a palavra significa: colocar à prova. Geralmente, podemos substituir a palavra provação sem alterar o sentido.

[2] N. do A.: “Jottings” John N. Darby.


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