O mundo olha ao redor e vê dor e
sofrimento e pergunta: “Onde está Deus em tudo isso?” Naturalmente,
remover Deus da cena não resolve o problema – isto apenas nos deixa em
um mundo de dor e sofrimento, sem esperança. Longe de ser indiferente ao
sofrimento, Deus sente tudo: “Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas
enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito,
ferido de Deus, e oprimido” (Is 53:4). Vivemos em um mundo que excluiu Deus.
Quando Ele enviou Seu Filho, eles disseram: “Este é o Herdeiro; vinde,
matemo-Lo, para que a herança seja nossa” (Lc 20:14). Deveríamos nos
surpreender com o caos e o sofrimento num mundo que não quer ter nada a ver com
Deus? Embora não sejamos deste mundo, estamos neste mundo e
sentimos os efeitos do pecado. Quando um furacão sopra, ou chega uma epidemia
de gripe, eles afetam tanto o justo quanto o injusto. Enquanto os ímpios veem
tudo como mero acaso, o crente vê nisso um propósito.
“Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações[1], Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação [Aparição – KJV] de Jesus Cristo” (1 Pe 1:6-7). Neste versículo, Pedro destaca quatro pontos importantes relacionados com as provações:
- Nossas provações são apenas
um período – há um limite de tempo.
- Há um “agora importa”;
Deus não nos coloca caprichosamente em provações desnecessárias; cada
circunstância de nossa vida é ordenada e calculada por Ele.
- Somente metais preciosos
são testados pelo fogo. Se Deus vê a necessidade de que passemos por uma provação,
é porque Ele vê algo de valor em nós – somos mais preciosos do que o ouro.
- As provações são, em
última instância, para a glória de Deus. Quando o Senhor estava na Terra,
estava em humilhação – os homens ficaram pasmados com o grau de humilhação (Is
52:14) – mas Ele retornará em glória e, além de admiração, iremos compartilhar
dessa demonstração de glória.
Um erro comum é sempre supor que Deus
está nos punindo em nossas provações. Os amigos de Jó tinham certeza de que ele
havia feito algo terrivelmente mau para merecer o sofrimento pelo qual passou.
Os discípulos caíram no mesmo erro quando perguntaram: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo
9:2) O homem vê a prosperidade como aprovação de Deus e provações como Sua
censura. Esta é uma visão pobre de Deus e indigna do Cristianismo – é típica
das religiões deste mundo. A resposta do Senhor aos Seus discípulos revela algo
muito diferente e de um caráter muito mais elevado: “Jesus respondeu: Nem
ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras
de Deus” (Jo 9:3). Por fim, como acabamos de ler na primeira epístola
de Pedro, nossas provações serão para o louvor e a glória
de Deus. Elas nos libertam de nós mesmos, desapegam-nos deste mundo, tornam-nos
dependentes de Deus e nos colocam em conformidade prática com o Seu Filho.
Alguns sugeriram que existem quatro tipos diferentes de provações. Elas podem ser lembradas como os quatro “Pês”:
- Preventiva:
“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um
espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim
de não me exaltar” (2 Co 12:7).
- Preparativa: “Que nos consola
em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem
em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por
Deus” (2 Co 1:4).
- Purificadora:
“(Deus) limpa toda aquela (vara) que dá fruto, para que dê mais
fruto” (Jo 15:2).
- Punitiva: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11:30-31).
A última, punitiva, é uma provação que resulta do
pecado em nossa vida. Há provações em que as causas são conhecidas e
reconhecemos nelas a mão de repreensão do Pai. O Pai dos espíritos nos ama
demais para nos permitir seguir em nosso próprio caminho: “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por
filho” (Hb 12:6). Por outro lado, há
provações que podemos não entender. Isso não deve nos levar a uma ocupação
doentia de nós mesmos – onde nosso foco é para dentro e não para o
alto. Ocupar-se consigo mesmo não deve ser confundido com o julgamento
próprio. John Darby escreveu: “A ocupação consigo mesmo é a perdição da
alma. O homem se torna o centro, e ele mesmo, o principal objeto na Terra. Por
outro lado: o julgamento próprio é a obra do Espírito de Deus. Este não é o Seu
trabalho mais peculiar, mas é muitas vezes, pela nossa falta de vigilância, o
Seu trabalho necessário. Não há como voltar ao gozo da comunhão sem isso”[2] Deveríamos estar ocupados conosco apenas o tempo
suficiente para julgar a nós mesmos.
Os três amigos de Jó cometeram o erro
de fazê-lo se ocupar consigo mesmo. Suas falsas acusações eram prejudiciais.
Eliú, por outro lado, dirigiu Jó para Deus. Ele não conseguiu explicar a
tribulação de Jó, mas apontou na direção certa. Deus não estava punindo Jó nem
agindo arbitrariamente. Havia uma necessidade na vida de Jó e Deus
trabalhava muito com ele. Jó, em sua veemente defesa própria, esqueceu-se de
que Deus estava com ele: “Porque eis que
Eu estou convosco, e Eu Me voltarei para vós, e sereis lavrados e semeados” (Ez 36:9). Somente
quando Jó entrou na presença de Deus é que ele encontrou libertação.
[1]
N. do A.: Na
tradução KJV, a palavra tentação é
frequentemente usada em lugar da palavra provação.
Uma é um teste interior, enquanto a outra é exterior. No grego, a palavra
significa: colocar à prova.
Geralmente, podemos substituir a palavra provação
sem alterar o sentido.
[2] N. do A.: “Jottings” John N. Darby.
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