Frequentemente, nossa
noção de comunhão está limitada àqueles momentos entre as reuniões da
assembleia, quando podemos conversar e desfrutar da companhia um do outro, ou
talvez quando nos reunimos para um jogo ou atividade casual. Por falta de uma
expressão melhor, chamarei isso de comunhão social. Embora esses
momentos sejam valiosos, eles não são a primeira nem a mais importante
expressão de comunhão encontrada na Palavra de Deus.
A Ceia do Senhor
A morte de Cristo é a base da
nossa comunhão. A principal expressão da comunhão Cristã está, portanto, à mesa
do Senhor, na ceia do Senhor. Na primeira carta de Paulo aos Coríntios, lemos: “Porventura
o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão
que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo: porque todos
participamos do mesmo pão” (1 Co 10:16-17). Neste simples
ato, temos comunhão com o Pai e o Filho e comunhão uns com os outros. Por este
meio também expressamos o um só corpo.
Embora nem todo Cristão esteja presente, eles estão representados no único pão[1].
Quando Esdras voltou da Babilônia para Jerusalém, ofereceu 12 novilhos como
ofertas queimadas por todo o Israel. “Doze novilhos por todo o Israel” (Ed 8:35). Embora apenas três
tribos estivessem fisicamente presentes[2],
todas estavam representadas naquele sacrifício.
A comunhão expressada na ceia do
Senhor deveria prevalecer sobre todas as outras formas de comunhão. Se alguém
rejeitou essa comunhão, isso deveria necessariamente afetar nossa relação
social com ele. Dependendo da circunstância, isso pode não romper a relação
social completamente, mas não reconhecer o impacto que tal ação tem em nossa
interação social, é colocar nosso relacionamento pessoal além e acima da nossa
comunhão com o Senhor.
Leitura da Bíblia
Antes, consideramos um versículo
do capítulo dois de Atos; na íntegra, diz: “E perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2:42). Já foi dito que a
doutrina dos apóstolos é o fundamento de nossa comunhão, o ato de partir o pão
é a expressão da nossa comunhão e a oração é para a manutenção de nossa
comunhão.
A consciência desses
primeiros crentes havia sido tocada (At 2:37). Agora eles queriam saber tudo o
que havia para saber sobre Jesus. Havia tanta coisa para se desfrutar em
comunhão a respeito daqu’Ele que havia sido feito Senhor e Cristo. Podemos
imaginá-los apegados a cada palavra que os apóstolos falaram sobre Sua vida e
às coisas que Ele lhes havia dito. Não apenas isso, os olhos desses novos
crentes tinham sido abertos quanto às profecias do Velho Testamento: “São
estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se
cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos salmos. Então abriu-lhes o
entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24:44-45). Deve ter
havido um exame cuidadoso das Escrituras por tudo o que havia sido escrito a
respeito d’Ele. “Examinais as Escrituras…
são elas que de Mim testificam” (Jo 5:39).
Assim como aqueles
primeiros Cristãos se reuniram para apreciar a Palavra e a comunhão dos
apóstolos, devemos igualmente nos unir para a leitura da Palavra. Isso deve
ocorrer primeiro na reunião de leitura da assembleia, mas não deve se limitar a
isso. Essas são ocasiões importantes para crescermos juntos no conhecimento da
verdade. Precisamos um do outro. Se nos engajamos ativamente na reunião de
leitura – mesmo que seja apenas o engajamento silencioso do coração e da mente
–, cresceremos por meio dela; também seremos uma ajuda para os outros.
Negligenciar a
reunião de leitura da assembleia em favor dos estudos bíblicos particulares é
um passo perigoso de independência e é destrutivo para a comunhão. Na reunião
de leitura, tudo é aberto e transparente e há oportunidade para os outros
corrigirem o que dizemos. No entanto, não deve haver nem competição nem
confronto. Quando a carne age, ela não promove o crescimento espiritual – de
fato, o efeito será exatamente o oposto. A verdade não é alcançada pelo debate
da Palavra de Deus. O erro deve ser corrigido com mansidão (2 Tm 2:25), mas
procurar chegar a um consenso sobre o significado da Escritura por meio do
debate, é humano e não divino. “Quando
vier aqu’Ele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade” (Jo
16:13). Deveria ser nosso desejo refletir com precisão o sentido da Escritura
nas coisas que dizemos. Só podemos fazer isso por meio do poder do Espírito de
Deus. Não é uma questão da minha opinião sobre isso ou aquilo. “Se alguém falar, fale segundo as Palavras de Deus” (1 Pe 4:11). Quando há
incerteza, então uma pergunta deve ser feita ou uma contribuição deve ser buscada
em outras pessoas.
Oração
“[Pedro]
foi à casa de Maria, mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos estavam reunidos e oravam” (At
12:12). A oração coletiva é outro meio pelo qual podemos expressar comunhão uns
com os outros. É algo que edifica e promove a comunhão entre os santos de Deus.
A Escritura fala de ambos, de oração particular e coletiva. Há algumas coisas
pelas quais é melhor orar no quarto (Mt 6:6), mas, assim como precisamos um do
outro no estudo da Palavra, também precisamos um do outro para orar. Três vezes
o Senhor lembrou aos discípulos que a Casa de Deus é uma Casa de Oração.
Frequentemente,
pensamos na oração intercessora de maneira negativa – intercedendo por alguém
que está com problemas. Intercessão, no entanto, é simplesmente uma oração a
Deus em nome de outra pessoa. Podemos mostrar comunhão em favor de outros,
elevando-os em oração. Os filipenses não apenas contribuíram materialmente para
o apóstolo Paulo, mas também oraram por ele. “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo
socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1:19). O apóstolo convidou para
tal oração: “Irmãos, orai por nós”
(1 Ts 5:25). Embora muitas vezes lembremos em oração daqueles com um ministério
especial, nossos pensamentos não devem ser tão limitados. “Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo
sempre por vós em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e
consumados [completos – JND] em toda a vontade de Deus” (Cl 4:12).
Contudo, nunca
devemos interceder uns contra os outros em oração. Elias é dado como exemplo,
para nosso aprendizado, de alguém que intercedeu contra os outros em oração. “Ou não sabeis o que a Escritura diz de
Elias, como fala a Deus contra Israel” (Rm 11:2). Quando oramos, deve ser
para a glória de Deus e a bênção dos outros.
Comunhão Prática
Finalmente, chegamos
à expressão mais prática de comunhão, a doação de dinheiro ou bens para atender
às necessidades de outros. Isto é principalmente em relação àqueles que fazem a
obra de Deus que podem não ter uma renda estável. Em muitos aspectos, a
epístola de Paulo aos Filipenses foi uma carta de agradecimento pela oferta de
comunhão. Ele menciona isso quase que imediatamente em suas saudações iniciais:
“Dou graças ao meu Deus todas as vezes
que me lembro de vós. Fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas
súplicas. Pela vossa cooperação [comunhão – JND] no evangelho desde o primeiro dia até
agora” (Fp 1:3-5).
Sabemos que essa comunhão assumiu a forma de coisas materiais, porque o
apóstolo a menciona novamente em suas considerações finais: “E bem sabeis também vós, ó filipenses,
que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja
comunicou (teve comunhão) comigo com
respeito a dar e a receber, senão vós somente. Porque também uma e outra vez me
mandastes o necessário [o bastante
para as minhas necessidades – ARA] a
Tessalônica” (Fp 4:15-16).
Também encontramos
exortação a esse tipo de comunhão no livro de Hebreus: “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação (comunhão), porque com tais sacrifícios Deus Se
agrada” (Hb 13:16). Em Romanos 12, onde obtemos a expressão prática da
doutrina contida nos oito primeiros capítulos, lemos: “socorrei as necessidades dos santos; exercitai a hospitalidade”
(Rm 12:13 – TB). Aqui encontramos hospitalidade intimamente ligada à expressão
prática da comunhão. Outras escrituras também nos encorajariam a esse respeito:
“Não vos esqueçais da hospitalidade,
porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13:2). “Sendo hospitaleiros uns para os outros,
sem murmurações” (1 Pe 4:9).
[1]
N. do A.: Por
isso é inapropriado hóstia ou vários pães.
[2]
N. do A.: Judá,
Benjamim, Levi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário