terça-feira, 29 de setembro de 2020

Servindo ao Senhor

Muito poderia ser escrito sobre servir; a Escritura está cheia de admoestações a respeito. Como em muitas coisas, nossos preconceitos afetam nosso entendimento. Embora o serviço possa estar relacionado ao dom, sua aplicação na Palavra de Deus é mais ampla do que isso: “pelo amor servi-vos uns aos outros” (Gl 5:13 – AIBB). Isso exige um dom? Paulo escreveu sobre a casa de Estéfanas: “[eles] se dedicaram ao serviço dos santos” (1 Co 16:15 – TB). Não podemos também realizar esse serviço? Cometemos o erro de sempre procurar algo grande no serviço. O serviço começa nas coisas terrenais e nas coisas normais.

O serviço pode ser dividido naquilo que é interior à família de Deus e no que é exterior. Independentemente disso, é tudo serviço ao Senhor: “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens; Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis (Cl 3:23-24). O Senhor Jesus Cristo deve ser nossa motivação para o serviço. Tudo o que fazemos deve ser feito como se fosse para Ele.

Na primeira carta de Paulo a Timóteo, ele nos dá as qualificações para aqueles que desejam servir na casa de Deus (1 Tm 3:8-13). Na versão King James (como nas em português), a palavra servo é traduzida nesses versículos como diácono. Infelizmente, isso se tornou um título e é usado como um distintivo de honra. Certamente não há nada de desonroso em servir ao Senhor, mas usar diácono como um título coloca o foco em mim e não no Senhor. Diácono é uma palavra grega que significa servo; por essa razão poderia ser traduzida como garçom! No capítulo seis de Atos, encontramos sete homens escolhidos para fazer exatamente isso servir às mesas. Embora isso possa parecer inferior, esse serviço é agradável a Deus. Além disso, “Aqueles que servirem bem, adquirirão para si uma boa posição, e muita ousadia em fé que é em Cristo Jesus (1 Tm 3:13 JND). Estevão, que tão ousadamente testemunhou diante do Sinédrio (At 6:12) e que se tornou o primeiro mártir (At 7:60), foi um dos sete! Ele começou seu ministério servindo viúvas. A grandeza, no serviço Cristão, tem pouco a ver com a tarefa empreendida; tem tudo a ver com aqu’Ele a Quem servimos.

Nosso serviço fora da família de Deus é prestado tanto em nossas ocupações diárias quanto também no evangelho. Quanto à nossa ocupação, devemos ser obedientes e diligentes “Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus. Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens” (Ef 6:6-7). Uma advertência muito semelhante pode ser encontrada na carta de Paulo aos Colossenses (Cl 3:22-24). Podemos não ser servos contratados no mesmo sentido; no entanto, pelos termos do nosso contrato, temos uma obrigação para com quem trabalhamos. Tal conduta tem um bem maior em vista: “Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados (1 Tm 6:1). No livro de Tito, onde especialmente temos nossa conduta abordada diante do mundo, Paulo escreve: “Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador (Tt 2:10). Nosso serviço neste mundo deveria ser o adorno prático e exterior da doutrina de um Deus Salvador. Novamente, vemos como a doutrina, longe de ser árida e abstrata, é a instrução divina que determina nossa conduta exterior. Se o mundo não pode ver algo de Cristo em nossos trabalhos práticos, por que eles nos ouviriam quando falamos do evangelho?

No final do Evangelho de Lucas, temos o que é comumente chamado de a Grande Missão: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; E em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24:46-47). A palavra missão assumiu um significado próprio; no entanto, o conceito é bastante simples. Missão deriva do verbo enviar em latim. Pouco antes de Sua ascensão, Cristo enviou Seus discípulos a este mundo para pregar o arrependimento e a remissão de pecados. A base da mensagem é a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo; a autoridade é o próprio Cristo – é “em Seu nome” – e a esfera é “em todas as nações”. O apóstolo Paulo recebeu sua missão, não do Senhor enquanto estava na Terra, mas de Cristo em glória (At 26:16-17); o conteúdo de sua mensagem era o mesmo, embora seu caráter fosse exclusivamente paulino.

Ao considerar esta missão, surge naturalmente a pergunta: Ela se aplica a mim? Não reivindicamos ser vasos escolhidos, pelo menos não no sentido em que Paulo foi. Mas isso nos exclui ou nos desculpa? Não precisamos procurar muito para encontrar a resposta. Paulo, escrevendo para Timóteo, diz: “Faze a obra dum evangelista” (2 Tm 4:5). Podemos não ter o dom do evangelismo, mas podemos fazer o trabalho de um evangelista. Eu posso entender por que Timóteo precisou dessa exortação. Sabemos algo de sua natureza tímida e, naquela época, o evangelho e a doutrina de Paulo estavam longe de serem populares. Falando naturalmente, não gostamos de ser portadores de uma mensagem impopular. A maioria de nós não aceita bem a rejeição. Porém, estamos vivendo em um mundo que rejeitou e crucificou o Senhor da glória; não devemos esperar um tratamento melhor (Jo 15:20).

Há mais uma coisa relacionada à entrega da Grande Missão. Os discípulos receberam ordem de permanecer em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24:49). Eles deviam esperar pela habitação do Espírito Santo. Eles não poderiam realizar essa missão sem o poder de Deus, e nós também não podemos. Talvez possamos sentir isso muito profundamente, mas não temos poder em nós mesmos para fazer o trabalho de um evangelista. O Espírito Santo, no entanto, não mudou!

Paulo poderia dizer: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16). Se conhecêssemos um pouco desse poder, e se víssemos as almas perdidas como Deus as vê, e as amássemos como Ele as ama, não seríamos tão reticentes em compartilhar o evangelho. Quando os leprosos, nos dias de Eliseu, descobriram o acampamento dos sírios abandonado, juntamente com toda a sua comida, roupas e dinheiro, disseram: Não fazemos bem: este dia é dia de boas novas, e nos calamos (2 Rs 7:9). Compreendemos verdadeiramente o poder das boas novas para salvar? Se sim, então por que nos calamos? Quando essas boas novas são recusadas, quem são os tolos? Não devemos temer parecer tolos.

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