Muito poderia ser
escrito sobre servir; a Escritura está cheia de admoestações a respeito. Como
em muitas coisas, nossos preconceitos afetam nosso entendimento. Embora o serviço
possa estar relacionado ao dom, sua aplicação na Palavra de Deus é mais ampla
do que isso: “pelo amor servi-vos uns
aos outros” (Gl 5:13 – AIBB). Isso exige um dom? Paulo escreveu sobre a
casa de Estéfanas: “[eles] se dedicaram
ao serviço dos santos” (1 Co 16:15 – TB). Não podemos também realizar esse
serviço? Cometemos o erro de sempre procurar algo grande no serviço. O serviço
começa nas coisas terrenais e nas coisas normais.
O serviço pode ser
dividido naquilo que é interior à família de Deus e no que é exterior.
Independentemente disso, é tudo serviço ao Senhor: “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e
não aos homens; Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:23-24).
O Senhor Jesus Cristo deve ser nossa motivação para o serviço. Tudo o que
fazemos deve ser feito como se fosse para Ele.
Na primeira carta de
Paulo a Timóteo, ele nos dá as qualificações para aqueles que desejam servir na
casa de Deus (1 Tm 3:8-13). Na versão King James (como nas em português), a
palavra servo é traduzida nesses versículos como diácono. Infelizmente, isso se tornou um título e é usado como um
distintivo de honra. Certamente não há nada de desonroso em servir ao Senhor,
mas usar diácono como um título
coloca o foco em mim e não no Senhor. Diácono
é uma palavra grega que significa servo;
por essa razão poderia ser traduzida como garçom!
No capítulo seis de Atos, encontramos sete homens escolhidos para fazer
exatamente isso – servir às mesas. Embora isso
possa parecer inferior, esse serviço é agradável a Deus. Além disso, “Aqueles que servirem bem, adquirirão
para si uma boa posição, e muita ousadia em fé que é em Cristo Jesus”
(1 Tm 3:13 – JND). Estevão, que tão
ousadamente testemunhou diante do Sinédrio (At 6:12) e que se tornou o primeiro
mártir (At 7:60), foi um dos sete! Ele começou seu ministério servindo viúvas.
A grandeza, no serviço Cristão, tem pouco a ver com a tarefa empreendida; tem
tudo a ver com aqu’Ele a Quem servimos.
Nosso serviço fora da
família de Deus é prestado tanto em nossas ocupações diárias quanto também no
evangelho. Quanto à nossa ocupação, devemos ser obedientes e diligentes “Não servindo à vista, como para agradar
aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus. Servindo de boa vontade como ao
Senhor, e não como aos homens” (Ef 6:6-7). Uma advertência muito
semelhante pode ser encontrada na carta de Paulo aos Colossenses (Cl 3:22-24).
Podemos não ser servos contratados no mesmo sentido; no entanto, pelos termos
do nosso contrato, temos uma obrigação para com quem trabalhamos. Tal conduta
tem um bem maior em vista: “Todos os
servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a
honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados”
(1 Tm 6:1). No livro de Tito, onde especialmente temos nossa conduta abordada
diante do mundo, Paulo escreve: “Não
defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador”
(Tt 2:10). Nosso serviço neste mundo deveria ser o adorno prático e exterior da
doutrina de um Deus Salvador. Novamente, vemos como a doutrina, longe de ser árida
e abstrata, é a instrução divina que determina nossa conduta exterior. Se o
mundo não pode ver algo de Cristo em nossos trabalhos práticos, por que eles
nos ouviriam quando falamos do evangelho?
No final do Evangelho
de Lucas, temos o que é comumente chamado de a Grande Missão: “Assim está escrito, e assim convinha que o
Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; E em Seu nome
se pregasse o arrependimento e a
remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc
24:46-47). A palavra missão assumiu
um significado próprio; no entanto, o conceito é bastante simples. Missão deriva do verbo enviar em latim. Pouco antes de Sua
ascensão, Cristo enviou Seus
discípulos a este mundo para pregar o arrependimento e a remissão de pecados. A
base da mensagem é a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo; a autoridade
é o próprio Cristo – é “em Seu nome”
– e a esfera é “em todas as nações”.
O apóstolo Paulo recebeu sua missão, não do Senhor enquanto estava na Terra,
mas de Cristo em glória (At 26:16-17); o conteúdo de sua mensagem era o mesmo,
embora seu caráter fosse exclusivamente paulino.
Ao considerar esta
missão, surge naturalmente a pergunta: Ela
se aplica a mim? Não reivindicamos ser vasos escolhidos, pelo menos não no
sentido em que Paulo foi. Mas isso nos exclui ou nos desculpa? Não precisamos
procurar muito para encontrar a resposta. Paulo, escrevendo para Timóteo, diz: “Faze a obra dum evangelista” (2 Tm
4:5). Podemos não ter o dom do evangelismo, mas podemos fazer o trabalho de um
evangelista. Eu posso entender por que Timóteo precisou dessa exortação. Sabemos
algo de sua natureza tímida e, naquela época, o evangelho e a doutrina de Paulo
estavam longe de serem populares. Falando naturalmente, não gostamos de ser
portadores de uma mensagem impopular. A maioria de nós não aceita bem a
rejeição. Porém, estamos vivendo em um mundo que rejeitou e
crucificou o Senhor da glória; não devemos esperar um tratamento melhor (Jo
15:20).
Há mais uma coisa relacionada à
entrega da Grande Missão. Os discípulos receberam ordem de permanecer em
Jerusalém até que do alto fossem “revestidos
de poder” (Lc
24:49). Eles deviam esperar pela habitação do Espírito Santo. Eles não poderiam
realizar essa missão sem o poder de Deus, e nós também não podemos. Talvez
possamos sentir isso muito profundamente, mas não temos poder em nós mesmos
para fazer o trabalho de um evangelista. O Espírito Santo, no entanto, não
mudou!
Paulo poderia dizer: “Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação
de todo aquele que crê” (Rm
1:16). Se conhecêssemos um pouco desse poder, e se víssemos as almas perdidas
como Deus as vê, e as amássemos como Ele as ama, não seríamos tão reticentes em
compartilhar o evangelho. Quando os leprosos, nos dias de Eliseu, descobriram o
acampamento dos sírios abandonado, juntamente com toda a sua comida, roupas e
dinheiro, disseram: “Não fazemos bem: este dia é dia de boas novas, e nos calamos” (2 Rs 7:9). Compreendemos
verdadeiramente o poder das boas novas para salvar? Se sim, então por que nos
calamos? Quando essas boas novas são recusadas, quem são os tolos? Não devemos
temer parecer tolos.
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