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Traduzido, publicado (em breve) e distribuído no Brasil com autorização do autor por Verdades Vivas - loja.verdadesvivas.com.br
A
graça é o favor mostrado por Deus ao homem culpado. A graça não ignora o pecado
– isso significaria que Deus seria injusto. Pelo contrário, é somente por causa
da obra propiciatória de Cristo que a graça pode ser estendida ao homem. Não há
nada que possamos fazer para merecer a graça de Deus – nem obras nem obediência
à lei: “Ora àquele que faz qualquer obra
não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (Rm
4:4). “Vós os que vos justificais pela
lei: da graça tendes caído” (Gl 5:4). Temos parte nela por meio do
arrependimento e fé: “A conversão a
Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21). “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus” (Ef 2:8).
O
crente é diariamente sustentado pela graça de Deus: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco” (Rm 16:20; 1 Co 16:23; Fp 4:23, etc.)
Justiça é
o atributo de Deus no qual Ele age em perfeita consistência com Seu próprio
caráter. Por causa da obra propiciatória de Cristo, Deus pode, em justiça,
justificar os culpados que n’Ele creem. É importante reconhecer que a graça,
conforme expressa no evangelho, se baseia na justiça – de forma alguma a graça
deixa de lado ou diminui a justiça.
No homem,
a justiça contrasta com o pecado. O homem provou a si mesmo estar sem justiça: “Não há um
justo, nem um sequer” (Rm
3:10). Como crentes, somos feitos a justiça de Deus em Cristo: “Àquele
que não conheceu pecado, O fez pecado por nós; para que n’Ele fôssemos
feitos justiça de Deus” (2 Co
5:21). A justiça de Cristo não foi colocada em nossa conta; antes, Deus nos vê
como justos em Cristo por causa de
Sua obra na cruz.
A
justificação contrasta com a condenação. Justificação significa ser declarado justo. Se alguém foi
justificado, então foi livre de toda acusação contra ele: “Portanto agora nenhuma condenação
há para os que estão
em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Somos justificados pela graça: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua
graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24). A justificação é
baseada no princípio de fé e não de obras: “O
homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3:28). O sangue é o
fundamento disso: “Sendo justificados
pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira” (Rm 5:9).
O pecado,
na mente da maioria, é um ato de maldade: homicídio, roubo, mentira e assim por
diante. Aos olhos de Deus, contudo, “pecado
é iniquidade [rebeldia – AIBB]” (1 Jo 3:4). É viver sem referência a Deus. A
Escritura distingue entre pecado, a
raiz, e pecados, o fruto – as coisas
que realmente fazemos. Por meio da transgressão de Adão, o pecado entrou neste
mundo e, como resultado, a morte. Toda a raça de Adão carregou a mesma natureza
pecaminosa como evidenciada pelo fruto na vida dos que a compõem: “Pelo que, como
por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens por isso
que todos pecaram” (Rm
5:12).
Culpado! É o veredicto solene de
Romanos, capítulos um a três: “Para que
toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus”
(Rm 3:19). Não há nada que possamos fazer para corrigir nossa condição – o
perdão é uma necessidade. Deus, no
entanto, é um Juiz justo e Ele não pode ignorar o pecado. É apenas no terreno
da obra sacrificial de Cristo que Deus pode estender o perdão. Todos os que
confiam nessa obra recebem perdão por seus pecados: “Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4:32). “Pelo Seu nome vos são perdoados os pecados” (1 Jo 2:12).
Por
meio da morte do Senhor Jesus Cristo, a natureza justa e santa de Deus foi
totalmente vindicada. O pecado provocou uma condição de coisas completamente
odiosas para Deus – foi uma afronta à Sua natureza justa e santa. É a obra
propiciatória de Cristo que atendeu a isso – e, como tal, essa obra é universal
e completa: “Jesus Cristo, o justo...
Ele é a propiciação pelos nossos pecados; mas não pelos nossos apenas, mas
também por todo o mundo” (1 Jo 2:1-2 – JND). É importante reconhecer
que propiciação atende ao dano causado a Deus e não à culpa do homem. No
entanto, é com base na propiciação que Deus agora Se apresenta como um
Deus-Salvador. Todos os que confiam no Senhor Jesus Cristo – e somente esses –
têm salvação.
A
reconciliação contrasta com a alienação – uma alienação que ocorreu por causa
do pecado. É por meio da morte do Senhor Jesus Cristo na cruz que um crente
agora está reconciliado a Deus: “A
vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas
vossas obras más, agora contudo vos
reconciliou. No corpo da Sua carne, pela morte, para perante Ele vos
apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1:21-22). A natureza velha não é reconciliada;
é apenas como possuidores de uma nova natureza que estamos reconciliados –
agora temos uma natureza, nascida de Deus, que é adequada à Sua natureza.
Na
redenção, somos comprados de volta e colocados em liberdade. A redenção
contrasta com a escravidão: “Todo
aquele que comete pecado é servo do pecado” (Jo 8:34). O Senhor Jesus Cristo pagou o preço da
redenção com Seu sangue: “Resgatados...
com
o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1:18-19). Fomos redimidos do poder do
pecado: “Nosso
Senhor Jesus Cristo; O qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a
iniquidade” (Tt
2:13-14); de Satanás: “Quando
o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; Mas,
sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que
confiava, e reparte os seus despojos” (Lc 11:21-22); deste mundo maligno: “O nosso Senhor
Jesus Cristo, O qual Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do
presente século mau” (Gl
1:3-4).
A santidade tem sido
descrita como “uma natureza que se
deleita na pureza e que repele o mal”. A santidade contrasta com a contaminação
– o oposto de santo é profano. Deus é santo em Seu caráter. O Cristão é santo,
pois é participante dessa natureza divina: “O
novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade”
(Ef 4:24). Baseado nisso, somos chamados a viver uma vida de santidade prática:
“Sede santos, porque Eu sou santo”
(1 Pe 1:16). A palavra grega usada para “profano’ no Novo Testamento tem o
sentido de: acessível; um lugar comum
ou aberto. Se quisermos viver uma
vida de santidade, então devemos excluir todas as coisas profanas. Sob a lei,
um vaso aberto era impuro (Nm 19:15).
Santificação refere-se à
santidade. Santificar, ou consagrar algo, é declará-lo santo. Ao fazer isso,
essa coisa é separada de toda contaminação. Na santificação, o crente é
separado para Deus. Esta é a nossa presente posição em Cristo (1 Co 1:2, 30). “Na
qual vontade temos sido santificados pela oblação [oferta – ARA] do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (Hb
10:10). Há também aquela santificação prática e contínua na vida do crente: “Porque
aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes
parecia; mas Este, para nosso
proveito, para sermos participantes da Sua
santidade” (Hb
12:10).
A
substituição me permite dizer: “O Filho
de Deus, O qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). Ao levar meus pecados em Seu próprio corpo na cruz, Cristo é
meu Substituto (1 Pe 2:24). “Jesus,
nosso Senhor... O qual por nossos
pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25). Propiciação é o aspecto da cruz que é para com Deus;
substituição, por outro lado, é aquele que diz respeito a cada crente
individualmente. Enquanto a propiciação tratou com o caráter do pecado
universalmente, a substituição só pode ser reivindicada por aqueles que aceitam
pessoalmente o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador: “para todos e sobre todos os que creem” (Rm 3:22).
A
vida eterna é mais do que uma vida sem fim. Mesmo os não salvos vivem para
sempre – para eles, porém, será passada em castigo eterno (Mt 25:46). A vida
eterna foi manifestada na vida do Senhor Jesus Cristo: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20). Essa mesma
vida é agora o dom de Deus para todos que creem no evangelho: “O dom gratuito de Deus é a vida eterna,
por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6:23). É a possessão presente de todo
crente: “Estas coisas vos escrevi, para
que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho
de Deus” (1 Jo 5:13). É caracterizada pelo conhecimento de Deus plenamente
revelado como o Pai no Filho: “E a vida
eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3).
[1]
N. do A.: Crédito
deve ser dado ao “Concise Bible Dictionary” por George Morrish, e “Present Truth for Christians” por H. E.
Hayhoe, onde ajudas adicionais sobre esses assuntos poderão ser encontradas.
“Porque
tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que pela
paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”
(Rm 15:4). O assunto da esperança e das provações é muito grande para ser
abrangido adequadamente em um capítulo. A Palavra de Deus está cheia de
versículos e exemplos para nosso encorajamento. Quando estamos atribulados, é
mais útil ler essas Escrituras e meditar nelas. Terminarei com apenas alguns
versículos que foram especialmente encorajadores para mim:
“Deus
é o nosso refúgio e fortaleza,
socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos”
(Sl 46:1-2).
“O
Senhor é bom, uma fortaleza no
dia da angústia, e conhece os que confiam n’Ele”
(Na 1:7).
“Vinde
a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt
11:28-29).
“Quem
nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição,
ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? ... Porque estou certo de que, nem a morte,
nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o
presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso
Senhor!” (Rm 8:35, 38-39)
“Não
te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5).
“Certamente
cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.” (Ap 22:20)
“Meus
irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações”
(Tg 1:2). Dificilmente parecerá justo que Deus nos peça gozo em nossas
provações. De fato, em outro lugar, lemos: “E,
na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de
tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados
por ela” (Hb 12:11). Então, como devemos entender o versículo em Tiago?
Tudo tem a ver com contexto. O livro de Tiago fala de nossa demonstração exterior
de fé diante dos outros. Como reagimos a uma provação: é com raiva, desespero
ou até mesmo indiferença? Nada disso é consistente com um caminhar de fé. O
capítulo 12 de Hebreus, por outro lado, aborda a mão corretiva de Deus sobre
nós. Se formos verdadeiramente exercitados pela experiência, sentiremos uma tristeza segundo Deus (2
Co 7:10). No entanto, mesmo nessas provações, há um aspecto em que podemos nos regozijar
– e tenho certeza de que é disso que, pelo menos em parte, Tiago fala. Um pai,
que permite que uma criança aja de acordo com sua própria vontade, não é
amoroso nem gentil. Mas temos um Pai que nos ama demais para isso. Nunca
esqueçamos de que Deus não deixa de ser um Deus amoroso e misericordioso, mesmo
no meio da provação. Confiar n’Ele, sabendo que Ele nunca erra, e que Ele tem
em vista o nosso melhor, nos dará uma grande paz. “Tu conservarás em paz aquele
cuja mente está firme em ti; porque ele confia em Ti”
(Is 26:3). Como diz o escritor do hino, o Pai nunca causa a Seu filho uma
lágrima desnecessária:
Nossas
horas estão em Tuas mãos;
Quaisquer
que sejam,
Agradáveis
ou dolorosas, escuras ou brilhantes,
O
melhor que Te parecer.
Nossas
horas estão em Tuas mãos;
Por
que deveríamos duvidar ou temer?
A mão do Pai nunca causará a Seu filho, uma lágrima
desnecessária.[1]
Ao escrever aos romanos, o
apóstolo Paulo diz: “Quanto à esperança,
regozijai-vos: quanto a tribulação, suportai-a: quando à oração, perseverai” (Rm 12:12 – JND). Aqui temos um
desses elos entre esperança e tribulação. Como alguém que sobe um caminho
rochoso em uma montanha íngreme, a tribulação requer paciência e resistência. Regozijemo-nos,
no entanto, pela perspectiva de dias mais brilhantes pela frente – sejam eles
aqui ou na glória. Além disso, temos a Palavra de Deus para assegurar-nos de
que nunca seremos provados além do nosso limite (1 Co 10:13). Nunca precisamos
dizer: “Não tenho certeza se vou
conseguir”. Mas há algo mais: o apóstolo menciona a oração. Não apenas uma
oração, mas perseverar em oração.
Paciência põe de lado nossas vontades. Como resultado, somos levados à
dependência de Deus; é a oração que nos sustenta no caminho da dependência. O
Senhor Jesus é o nosso Exemplo; no evangelho de Lucas, frequentemente
encontramos o Filho do Homem em atitude de oração: “Porém
Ele retirava-Se para os desertos, e ali orava” (Lc 5:16). Paulo exorta os crentes
filipenses: “Não estejais inquietos por coisa
alguma: antes as vossas petições sejam em
tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e
os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp
4:6-7).
Não precisamos supor que nosso
caminho será sempre difícil e sombrio. Deus nos proporciona momentos de
descanso nas tempestades da vida. É sempre tentador recorrer ao mundo em busca
de alívio e de um momento de luz, mas isso provará ser vazio e insatisfatório.
Como Davi, o melhor refúgio pode ser simplesmente uma caverna isolada com o
Senhor (Sl 142).
De todo vento tempestuoso que sopra,
De cada maré crescente de aflições,
Há um retiro calmo, doce;
Foi encontrado diante do trono da graça [2]
Ao percorrermos os evangelhos,
lemos sobre o Senhor passando por momentos calmos, longe do tumulto da
multidão. Independentemente das pequenas tréguas que podemos desfrutar, este
mundo não é o nosso lar. Se nos sentimos fora de lugar, é porque estamos fora
de lugar.
Quando ouvimos alguém dizer: “Você não sabe como eu me sinto”, isso é
bem verdade. Humanamente não podemos entrar nos sentimentos de outra pessoa. Se
tivermos passado por circunstâncias semelhantes, podemos ser capazes de ter
empatia. Mais do que isso, deveríamos compartilhar o conforto que
experimentamos em nossa provação (2 Co 1:4). No entanto, nunca podemos
realmente dizer: “Eu sei exatamente como
você se sente”. Há Um, no entanto, que pode dizer isso. Mesmo quando nos
sentimos sós e incompreendidos, podemos levar nosso fardo ao Senhor Jesus e ter
certeza de que Ele entende: “Porque não temos um Sumo Sacerdote
que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo
foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da
graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos
ajudados em tempo oportuno” (Hb
4:15-16).
[1] N. do A.: “Our Times are in Thy
Hands” William F.
Lloyd (1791-1853).
[2] N. do A.: “From Every Stormy Wind
that Blows” Hugh
Stowell (1799-1865).
O mundo olha ao redor e vê dor e
sofrimento e pergunta: “Onde está Deus em tudo isso?” Naturalmente,
remover Deus da cena não resolve o problema – isto apenas nos deixa em
um mundo de dor e sofrimento, sem esperança. Longe de ser indiferente ao
sofrimento, Deus sente tudo: “Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas
enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito,
ferido de Deus, e oprimido” (Is 53:4). Vivemos em um mundo que excluiu Deus.
Quando Ele enviou Seu Filho, eles disseram: “Este é o Herdeiro; vinde,
matemo-Lo, para que a herança seja nossa” (Lc 20:14). Deveríamos nos
surpreender com o caos e o sofrimento num mundo que não quer ter nada a ver com
Deus? Embora não sejamos deste mundo, estamos neste mundo e
sentimos os efeitos do pecado. Quando um furacão sopra, ou chega uma epidemia
de gripe, eles afetam tanto o justo quanto o injusto. Enquanto os ímpios veem
tudo como mero acaso, o crente vê nisso um propósito.
“Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações[1], Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação [Aparição – KJV] de Jesus Cristo” (1 Pe 1:6-7). Neste versículo, Pedro destaca quatro pontos importantes relacionados com as provações:
Um erro comum é sempre supor que Deus
está nos punindo em nossas provações. Os amigos de Jó tinham certeza de que ele
havia feito algo terrivelmente mau para merecer o sofrimento pelo qual passou.
Os discípulos caíram no mesmo erro quando perguntaram: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo
9:2) O homem vê a prosperidade como aprovação de Deus e provações como Sua
censura. Esta é uma visão pobre de Deus e indigna do Cristianismo – é típica
das religiões deste mundo. A resposta do Senhor aos Seus discípulos revela algo
muito diferente e de um caráter muito mais elevado: “Jesus respondeu: Nem
ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras
de Deus” (Jo 9:3). Por fim, como acabamos de ler na primeira epístola
de Pedro, nossas provações serão para o louvor e a glória
de Deus. Elas nos libertam de nós mesmos, desapegam-nos deste mundo, tornam-nos
dependentes de Deus e nos colocam em conformidade prática com o Seu Filho.
Alguns sugeriram que existem quatro tipos diferentes de provações. Elas podem ser lembradas como os quatro “Pês”:
A última, punitiva, é uma provação que resulta do
pecado em nossa vida. Há provações em que as causas são conhecidas e
reconhecemos nelas a mão de repreensão do Pai. O Pai dos espíritos nos ama
demais para nos permitir seguir em nosso próprio caminho: “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por
filho” (Hb 12:6). Por outro lado, há
provações que podemos não entender. Isso não deve nos levar a uma ocupação
doentia de nós mesmos – onde nosso foco é para dentro e não para o
alto. Ocupar-se consigo mesmo não deve ser confundido com o julgamento
próprio. John Darby escreveu: “A ocupação consigo mesmo é a perdição da
alma. O homem se torna o centro, e ele mesmo, o principal objeto na Terra. Por
outro lado: o julgamento próprio é a obra do Espírito de Deus. Este não é o Seu
trabalho mais peculiar, mas é muitas vezes, pela nossa falta de vigilância, o
Seu trabalho necessário. Não há como voltar ao gozo da comunhão sem isso”[2] Deveríamos estar ocupados conosco apenas o tempo
suficiente para julgar a nós mesmos.
Os três amigos de Jó cometeram o erro
de fazê-lo se ocupar consigo mesmo. Suas falsas acusações eram prejudiciais.
Eliú, por outro lado, dirigiu Jó para Deus. Ele não conseguiu explicar a
tribulação de Jó, mas apontou na direção certa. Deus não estava punindo Jó nem
agindo arbitrariamente. Havia uma necessidade na vida de Jó e Deus
trabalhava muito com ele. Jó, em sua veemente defesa própria, esqueceu-se de
que Deus estava com ele: “Porque eis que
Eu estou convosco, e Eu Me voltarei para vós, e sereis lavrados e semeados” (Ez 36:9). Somente
quando Jó entrou na presença de Deus é que ele encontrou libertação.
[1]
N. do A.: Na
tradução KJV, a palavra tentação é
frequentemente usada em lugar da palavra provação.
Uma é um teste interior, enquanto a outra é exterior. No grego, a palavra
significa: colocar à prova.
Geralmente, podemos substituir a palavra provação
sem alterar o sentido.
[2] N. do A.: “Jottings” John N. Darby.
Quando Daniel foi
trazido a Belsazar, foi-lhe oferecido o cargo de terceiro governante no reino: “Se puderes ler esta escritura, e fazer-me
saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, e terás cadeia [corrente
– JND] de ouro ao pescoço, e no reino serás o terceiro dominador”
(Dn 5:16). Certamente essa era uma grande honra, e ainda assim Daniel recusou! “Os teus dons fiquem contigo, e dá os teus
presentes a outro” (Dn 5:17). Por que Daniel faria isso? Ele literalmente
havia visto a inscrição na parede: “MENE,
MENE, TEQUEL, UFARSIM” (Dn 5:25). O reino de Belsazar havia sido contado,
pesado e entregue aos persas. Tudo estava terminado tanto para Belsazar quanto
para o império babilônico; tudo estava prestes a ser conquistado pelos persas.
Temos visto a inscrição na parede ou somos como Belsazar e seus sábios, sem entendimento
da palavra profética de Deus?
Estamos nos agarrando
às honras deste mundo ou buscando justiça em um mundo que não conhece justiça?
Estamos vivendo com medo do homem, sem reconhecer que Deus, que Se lembra do
pardal, tem Seu olhar sobre nós? Estamos ansiosos por comida e bebida quando
temos um Pai que sabe que precisamos dessas coisas? Ou estamos depositando um
tesouro no céu, onde ele não perecerá? “Porque,
onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc
12:34). O capítulo 12 de Lucas se dirige aos fiéis em Israel, em vista de um
Messias crucificado e da temporária colocação de lado de um reino terrenal. O
que os fiéis deveriam fazer? Eles deveriam esperar a volta do Senhor, mas até
lá haveria provações e violência; mas o Pai viu tudo e sabia de tudo e cuidaria
do Seu pequeno rebanho. Podemos resumir o capítulo com uma pergunta simples: Estamos vivendo em vista da eternidade ou do
que é aqui e agora?
O Cristão deveria
viver sua vida na expectativa diária da vinda de Cristo. Estamos aguardando o
brado do Senhor quando Ele chamar Sua noiva, a Igreja: “Sobe aqui” (Ap 4:1). “Porque
o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com voz de arcanjo e com
trombeta de Deus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Então nós que
estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens juntamente
com eles ao encontro do Senhor nos ares; e assim ficaremos sempre com o Senhor”
(1 Ts 4:16-17 – TB). Esta é a nossa bem-aventurada esperança (Tt 2:13).
Nossa esperança, no entanto, não termina com isso. “E
nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 5:2). Antevemos um dia em que todos serão para a glória
de Deus; uma cena que nada pode estragar. Se nosso pensamento termina com o
Arrebatamento[1],
então é provavelmente por razões erradas. Sim, queremos sair dessa cena, mas
por quê? Apenas para escapar de nossas dificuldades?
O Senhor Jesus voltará à Terra em uma manifestação de glória
para todos verem – esta é Sua Aparição. O Arrebatamento e a Aparição não
devem ser confundidos; eles são dois eventos distintos e separados. No
Arrebatamento, o Senhor não será visto por este mundo – somente por aqueles que
forem arrebatados para encontrá-Lo nas nuvens. Porém, em Sua Aparição, todos os
olhos O contemplarão (Ap 1:7). O que a Aparição de Cristo significa para nós?
Estamos preocupados com a Sua glória?
Quando a Escritura conecta responsabilidade com a vinda do
Senhor, sempre a conecta com Sua Aparição e não com o Arrebatamento. Talvez
isso seja inesperado, mas deve ser assim. Na Sua Aparição a glória de Cristo
será manifestada – uma glória a qual compartilharemos. Então não deveria ser
nenhuma surpresa ler: “Para confortar [confirmar – AIBB] os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade
diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos
os seus santos” (1 Ts 3:13). Todos serão revistos e julgados antes desse
tempo e as consequências de nossa responsabilidade estarão à vista. O apóstolo
Paulo podia dizer dos crentes em Tessalônica: “Porque,
qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois
vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda?”
(1 Ts 2:19). Ao escrever a Timóteo,
Paulo diz: “Que guardes este mandamento sem
mácula e repreensão, até à Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tm 6:14). Para os filipenses ele
escreve: “Retendo a palavra da vida, para
que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em
vão”
(Fp 2:16). Estes são apenas alguns dos versículos que conectam nossa conduta à
Aparição de Cristo. Viver no bem dessa esperança nos transforma – é preciso! “E
qualquer que n’Ele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como
também Ele é puro” (1 Jo 3:3).
Se estivermos vivendo em vista da eternidade, não apenas
nosso caminhar Cristão assumirá certas características morais, mas também
seremos poupados das ansiedades deste mundo. Quando Paulo escreveu sua primeira
carta aos tessalonicenses, eles esperavam intensamente o Filho de Deus vindo do
céu (1 Ts 1:10). A esperança deles estava viva e bem. No entanto, quando Paulo
escreveu sua segunda carta, eles estavam com a mente abalada e perturbados.
Eles haviam perdido a esperança. Nesse momento em particular, foi por causa de
um ensino falso. Eles estavam sofrendo perseguição e haviam sido persuadidos,
por uma carta forjada, de que o dia do Senhor (um dia de terrível juízo) já “era presente” (2 Ts 2:2-3 – JND). O
apóstolo os lembra de que “pela vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo, e pela nossa reunião
com Ele” (2 Ts 2:1) eles não tinham motivos para ficar ansiosos. O
dia do Senhor não chegará até que
tenhamos sido tirados deste mundo no Arrebatamento: “Também
Eu te guardarei da hora da tentação [provação – JND] que há de
vir sobre todo o mundo” (Ap 3:10). Não é até o final do segundo capítulo que Paulo
fala novamente da esperança e do conforto que vem com ela: “E
o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em
graça nos deu uma eterna
consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda
a boa palavra e obra” (2 Ts 2:16-17 – ARF).
[1]
N. do A.: Do
latim raptūra, arrebatar, levar – 1
Ts 4:17.