quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Uma Publicação VERDADES VIVAS

 


O Livro impresso está disponível  AQUI 



O Livro eletrônico está disponível  AQUI



Caso queria compartilhar este livro, segue o link
https://drive.google.com/file/d/1ZbfM4BUdxkjaMUjNZlUR6gEBZ5_HplsA/view?usp=sharing


Prefira compartilhar o link para acessar sempre a versão mais recente do livro

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Glossário

Graça

A graça é o favor mostrado por Deus ao homem culpado. A graça não ignora o pecado – isso significaria que Deus seria injusto. Pelo contrário, é somente por causa da obra propiciatória de Cristo que a graça pode ser estendida ao homem. Não há nada que possamos fazer para merecer a graça de Deus – nem obras nem obediência à lei: “Ora àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (Rm 4:4). “Vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído” (Gl 5:4). Temos parte nela por meio do arrependimento e fé: “A conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21). “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2:8).

O crente é diariamente sustentado pela graça de Deus: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco” (Rm 16:20; 1 Co 16:23; Fp 4:23, etc.)


Justiça

Justiça é o atributo de Deus no qual Ele age em perfeita consistência com Seu próprio caráter. Por causa da obra propiciatória de Cristo, Deus pode, em justiça, justificar os culpados que n’Ele creem. É importante reconhecer que a graça, conforme expressa no evangelho, se baseia na justiça – de forma alguma a graça deixa de lado ou diminui a justiça.

No homem, a justiça contrasta com o pecado. O homem provou a si mesmo estar sem justiça: Não há um justo, nem um sequer (Rm 3:10). Como crentes, somos feitos a justiça de Deus em Cristo: Àquele que não conheceu pecado, O fez pecado por nós; para que n’Ele fôssemos feitos justiça de Deus (2 Co 5:21). A justiça de Cristo não foi colocada em nossa conta; antes, Deus nos vê como justos em Cristo por causa de Sua obra na cruz.


Justificação

A justificação contrasta com a condenação. Justificação significa ser declarado justo. Se alguém foi justificado, então foi livre de toda acusação contra ele: “Portanto agora nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Somos justificados pela graça: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24). A justificação é baseada no princípio de fé e não de obras: “O homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3:28). O sangue é o fundamento disso: “Sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira” (Rm 5:9).


Pecado

O pecado, na mente da maioria, é um ato de maldade: homicídio, roubo, mentira e assim por diante. Aos olhos de Deus, contudo, pecado é iniquidade [rebeldia – AIBB] (1 Jo 3:4). É viver sem referência a Deus. A Escritura distingue entre pecado, a raiz, e pecados, o fruto – as coisas que realmente fazemos. Por meio da transgressão de Adão, o pecado entrou neste mundo e, como resultado, a morte. Toda a raça de Adão carregou a mesma natureza pecaminosa como evidenciada pelo fruto na vida dos que a compõem: Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Rm 5:12).


Perdão

Culpado! É o veredicto solene de Romanos, capítulos um a três: “Para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus (Rm 3:19). Não há nada que possamos fazer para corrigir nossa condição – o perdão é uma necessidade. Deus, no entanto, é um Juiz justo e Ele não pode ignorar o pecado. É apenas no terreno da obra sacrificial de Cristo que Deus pode estender o perdão. Todos os que confiam nessa obra recebem perdão por seus pecados: “Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4:32). “Pelo Seu nome vos são perdoados os pecados” (1 Jo 2:12).


Propiciação

Por meio da morte do Senhor Jesus Cristo, a natureza justa e santa de Deus foi totalmente vindicada. O pecado provocou uma condição de coisas completamente odiosas para Deus – foi uma afronta à Sua natureza justa e santa. É a obra propiciatória de Cristo que atendeu a isso – e, como tal, essa obra é universal e completa: “Jesus Cristo, o justo... Ele é a propiciação pelos nossos pecados; mas não pelos nossos apenas, mas também por todo o mundo (1 Jo 2:1-2 – JND). É importante reconhecer que propiciação atende ao dano causado a Deus e não à culpa do homem. No entanto, é com base na propiciação que Deus agora Se apresenta como um Deus-Salvador. Todos os que confiam no Senhor Jesus Cristo – e somente esses – têm salvação.


Reconciliação

A reconciliação contrasta com a alienação – uma alienação que ocorreu por causa do pecado. É por meio da morte do Senhor Jesus Cristo na cruz que um crente agora está reconciliado a Deus: A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou. No corpo da Sua carne, pela morte, para perante Ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis (Cl 1:21-22). A natureza velha não é reconciliada; é apenas como possuidores de uma nova natureza que estamos reconciliados – agora temos uma natureza, nascida de Deus, que é adequada à Sua natureza.


Redenção

Na redenção, somos comprados de volta e colocados em liberdade. A redenção contrasta com a escravidão: Todo aquele que comete pecado é servo do pecado (Jo 8:34). O Senhor Jesus Cristo pagou o preço da redenção com Seu sangue: “Resgatados... com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado (1 Pe 1:18-19). Fomos redimidos do poder do pecado: Nosso Senhor Jesus Cristo; O qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade (Tt 2:13-14); de Satanás:Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos (Lc 11:21-22); deste mundo maligno: “O nosso Senhor Jesus Cristo, O qual Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau(Gl 1:3-4).


Santidade

A santidade tem sido descrita como “uma natureza que se deleita na pureza e que repele o mal”. A santidade contrasta com a contaminação – o oposto de santo é profano. Deus é santo em Seu caráter. O Cristão é santo, pois é participante dessa natureza divina: “O novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:24). Baseado nisso, somos chamados a viver uma vida de santidade prática: “Sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pe 1:16). A palavra grega usada para “profano’ no Novo Testamento tem o sentido de: acessível; um lugar comum ou aberto. Se quisermos viver uma vida de santidade, então devemos excluir todas as coisas profanas. Sob a lei, um vaso aberto era impuro (Nm 19:15).


Santificação

Santificação refere-se à santidade. Santificar, ou consagrar algo, é declará-lo santo. Ao fazer isso, essa coisa é separada de toda contaminação. Na santificação, o crente é separado para Deus. Esta é a nossa presente posição em Cristo (1 Co 1:2, 30). Na qual vontade temos sido santificados pela oblação [oferta – ARA] do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez (Hb 10:10). Há também aquela santificação prática e contínua na vida do crente: Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas Este, para nosso proveito, para sermos participantes da Sua santidade (Hb 12:10).


Substituição

A substituição me permite dizer: “O Filho de Deus, O qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim(Gl 2:20). Ao levar meus pecados em Seu próprio corpo na cruz, Cristo é meu Substituto (1 Pe 2:24). “Jesus, nosso Senhor... O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação (Rm 4:25). Propiciação é o aspecto da cruz que é para com Deus; substituição, por outro lado, é aquele que diz respeito a cada crente individualmente. Enquanto a propiciação tratou com o caráter do pecado universalmente, a substituição só pode ser reivindicada por aqueles que aceitam pessoalmente o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador: “para todos e sobre todos os que creem (Rm 3:22).


Vida Eterna[1]

A vida eterna é mais do que uma vida sem fim. Mesmo os não salvos vivem para sempre – para eles, porém, será passada em castigo eterno (Mt 25:46). A vida eterna foi manifestada na vida do Senhor Jesus Cristo: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20). Essa mesma vida é agora o dom de Deus para todos que creem no evangelho: “O dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6:23). É a possessão presente de todo crente: “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus” (1 Jo 5:13). É caracterizada pelo conhecimento de Deus plenamente revelado como o Pai no Filho: “E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3).



[1] N. do A.: Crédito deve ser dado ao “Concise Bible Dictionary” por George Morrish, e “Present Truth for Christians” por H. E. Hayhoe, onde ajudas adicionais sobre esses assuntos poderão ser encontradas.

Coisas a Considerar

  • Nossa esperança é estar com Cristo.
  • Nossa esperança é certa; descansa na Palavra de Deus e na obra do Senhor Jesus Cristo.
  • Não esperamos libertação das provações terrenais, mas nossa esperança nos ajuda a atravessá-las. Esperança e provações estão intimamente ligadas na Escritura.
  • Se não acreditarmos no que Deus disse e que Ele fará o que prometeu, faremos o que Ele proíbe.
  • Se estivermos vivendo na esperança da glória de Deus, isso nos mudará; purificar-nos-emos como Ele é puro.
  • Deus permite provações em nossa vida para que possamos nos tornar mais parecidos com o Senhor Jesus Cristo.
  • As provações podem ser: preventivas, preparativas, purificadoras ou punitivas. Não devemos assumir automaticamente que Deus está nos punindo.
  • Podemos ter paz e até gozo em uma provação, se confiarmos plenamente em nosso amoroso Pai para fazer o que é necessário e correto.
  • Outros não nos entenderão, mas o Senhor Jesus Cristo nos entende; Ele foi tentado em todas as coisas da mesma maneira que somos – sem pecado.
  • A oração nos sustenta em uma provação.
  • A Palavra de Deus é uma fonte de encorajamento e força; precisamos ler e meditar nela.

O Conforto das Escrituras

“Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm 15:4). O assunto da esperança e das provações é muito grande para ser abrangido adequadamente em um capítulo. A Palavra de Deus está cheia de versículos e exemplos para nosso encorajamento. Quando estamos atribulados, é mais útil ler essas Escrituras e meditar nelas. Terminarei com apenas alguns versículos que foram especialmente encorajadores para mim:

 “O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo sejam os braços eternos” (Dt 33:27).

“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos” (Sl 46:1-2).

“O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam n’Ele” (Na 1:7).

“Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt 11:28-29).

 Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? ... Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor!” (Rm 8:35, 38-39)

“Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5).

“Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.” (Ap 22:20)

Paz e Gozo em Tempos de Provação

“Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações” (Tg 1:2). Dificilmente parecerá justo que Deus nos peça gozo em nossas provações. De fato, em outro lugar, lemos: E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:11). Então, como devemos entender o versículo em Tiago? Tudo tem a ver com contexto. O livro de Tiago fala de nossa demonstração exterior de fé diante dos outros. Como reagimos a uma provação: é com raiva, desespero ou até mesmo indiferença? Nada disso é consistente com um caminhar de fé. O capítulo 12 de Hebreus, por outro lado, aborda a mão corretiva de Deus sobre nós. Se formos verdadeiramente exercitados pela experiência, sentiremos uma tristeza segundo Deus (2 Co 7:10). No entanto, mesmo nessas provações, há um aspecto em que podemos nos regozijar – e tenho certeza de que é disso que, pelo menos em parte, Tiago fala. Um pai, que permite que uma criança aja de acordo com sua própria vontade, não é amoroso nem gentil. Mas temos um Pai que nos ama demais para isso. Nunca esqueçamos de que Deus não deixa de ser um Deus amoroso e misericordioso, mesmo no meio da provação. Confiar n’Ele, sabendo que Ele nunca erra, e que Ele tem em vista o nosso melhor, nos dará uma grande paz. “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em Ti (Is 26:3). Como diz o escritor do hino, o Pai nunca causa a Seu filho uma lágrima desnecessária:

 

Nossas horas estão em Tuas mãos;

Quaisquer que sejam,

Agradáveis ou dolorosas, escuras ou brilhantes,

O melhor que Te parecer.

Nossas horas estão em Tuas mãos;

Por que deveríamos duvidar ou temer?

A mão do Pai nunca causará a Seu filho, uma lágrima desnecessária.[1]

 

Ao escrever aos romanos, o apóstolo Paulo diz: “Quanto à esperança, regozijai-vos: quanto a tribulação, suportai-a: quando à oração, perseverai (Rm 12:12 – JND). Aqui temos um desses elos entre esperança e tribulação. Como alguém que sobe um caminho rochoso em uma montanha íngreme, a tribulação requer paciência e resistência. Regozijemo-nos, no entanto, pela perspectiva de dias mais brilhantes pela frente – sejam eles aqui ou na glória. Além disso, temos a Palavra de Deus para assegurar-nos de que nunca seremos provados além do nosso limite (1 Co 10:13). Nunca precisamos dizer: “Não tenho certeza se vou conseguir”. Mas há algo mais: o apóstolo menciona a oração. Não apenas uma oração, mas perseverar em oração. Paciência põe de lado nossas vontades. Como resultado, somos levados à dependência de Deus; é a oração que nos sustenta no caminho da dependência. O Senhor Jesus é o nosso Exemplo; no evangelho de Lucas, frequentemente encontramos o Filho do Homem em atitude de oração: Porém Ele retirava-Se para os desertos, e ali orava (Lc 5:16). Paulo exorta os crentes filipenses: Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus (Fp 4:6-7).

Não precisamos supor que nosso caminho será sempre difícil e sombrio. Deus nos proporciona momentos de descanso nas tempestades da vida. É sempre tentador recorrer ao mundo em busca de alívio e de um momento de luz, mas isso provará ser vazio e insatisfatório. Como Davi, o melhor refúgio pode ser simplesmente uma caverna isolada com o Senhor (Sl 142).

 

De todo vento tempestuoso que sopra,

De cada maré crescente de aflições,

Há um retiro calmo, doce;

Foi encontrado diante do trono da graça [2]

 

Ao percorrermos os evangelhos, lemos sobre o Senhor passando por momentos calmos, longe do tumulto da multidão. Independentemente das pequenas tréguas que podemos desfrutar, este mundo não é o nosso lar. Se nos sentimos fora de lugar, é porque estamos fora de lugar.

Quando ouvimos alguém dizer: “Você não sabe como eu me sinto”, isso é bem verdade. Humanamente não podemos entrar nos sentimentos de outra pessoa. Se tivermos passado por circunstâncias semelhantes, podemos ser capazes de ter empatia. Mais do que isso, deveríamos compartilhar o conforto que experimentamos em nossa provação (2 Co 1:4). No entanto, nunca podemos realmente dizer: “Eu sei exatamente como você se sente”. Há Um, no entanto, que pode dizer isso. Mesmo quando nos sentimos sós e incompreendidos, podemos levar nosso fardo ao Senhor Jesus e ter certeza de que Ele entende: Porque não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hb 4:15-16).



[1] N. do A.: “Our Times are in Thy Hands” William F. Lloyd (1791-1853).

[2] N. do A.: “From Every Stormy Wind that Blows” Hugh Stowell (1799-1865).

Provações

O mundo olha ao redor e vê dor e sofrimento e pergunta: “Onde está Deus em tudo isso?” Naturalmente, remover Deus da cena não resolve o problema – isto apenas nos deixa em um mundo de dor e sofrimento, sem esperança. Longe de ser indiferente ao sofrimento, Deus sente tudo: “Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido” (Is 53:4). Vivemos em um mundo que excluiu Deus. Quando Ele enviou Seu Filho, eles disseram: “Este é o Herdeiro; vinde, matemo-Lo, para que a herança seja nossa” (Lc 20:14). Deveríamos nos surpreender com o caos e o sofrimento num mundo que não quer ter nada a ver com Deus? Embora não sejamos deste mundo, estamos neste mundo e sentimos os efeitos do pecado. Quando um furacão sopra, ou chega uma epidemia de gripe, eles afetam tanto o justo quanto o injusto. Enquanto os ímpios veem tudo como mero acaso, o crente vê nisso um propósito.

“Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações[1], Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação [Aparição – KJV] de Jesus Cristo” (1 Pe 1:6-7). Neste versículo, Pedro destaca quatro pontos importantes relacionados com as provações: 

  • Nossas provações são apenas um período – há um limite de tempo.
  • Há um “agora importa”; Deus não nos coloca caprichosamente em provações desnecessárias; cada circunstância de nossa vida é ordenada e calculada por Ele.
  • Somente metais preciosos são testados pelo fogo. Se Deus vê a necessidade de que passemos por uma provação, é porque Ele vê algo de valor em nós – somos mais preciosos do que o ouro.
  • As provações são, em última instância, para a glória de Deus. Quando o Senhor estava na Terra, estava em humilhação – os homens ficaram pasmados com o grau de humilhação (Is 52:14) – mas Ele retornará em glória e, além de admiração, iremos compartilhar dessa demonstração de glória.

Um erro comum é sempre supor que Deus está nos punindo em nossas provações. Os amigos de Jó tinham certeza de que ele havia feito algo terrivelmente mau para merecer o sofrimento pelo qual passou. Os discípulos caíram no mesmo erro quando perguntaram: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9:2) O homem vê a prosperidade como aprovação de Deus e provações como Sua censura. Esta é uma visão pobre de Deus e indigna do Cristianismo – é típica das religiões deste mundo. A resposta do Senhor aos Seus discípulos revela algo muito diferente e de um caráter muito mais elevado: “Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus(Jo 9:3). Por fim, como acabamos de ler na primeira epístola de Pedro, nossas provações serão para o louvor e a glória de Deus. Elas nos libertam de nós mesmos, desapegam-nos deste mundo, tornam-nos dependentes de Deus e nos colocam em conformidade prática com o Seu Filho.

Alguns sugeriram que existem quatro tipos diferentes de provações. Elas podem ser lembradas como os quatro “Pês”: 

  • Preventiva: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar” (2 Co 12:7).
  • Preparativa: “Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2 Co 1:4).
  • Purificadora: (Deus) limpa toda aquela (vara) que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15:2).
  • Punitiva: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11:30-31). 

A última, punitiva, é uma provação que resulta do pecado em nossa vida. Há provações em que as causas são conhecidas e reconhecemos nelas a mão de repreensão do Pai. O Pai dos espíritos nos ama demais para nos permitir seguir em nosso próprio caminho: “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6). Por outro lado, há provações que podemos não entender. Isso não deve nos levar a uma ocupação doentia de nós mesmos – onde nosso foco é para dentro e não para o alto. Ocupar-se consigo mesmo não deve ser confundido com o julgamento próprio. John Darby escreveu: “A ocupação consigo mesmo é a perdição da alma. O homem se torna o centro, e ele mesmo, o principal objeto na Terra. Por outro lado: o julgamento próprio é a obra do Espírito de Deus. Este não é o Seu trabalho mais peculiar, mas é muitas vezes, pela nossa falta de vigilância, o Seu trabalho necessário. Não há como voltar ao gozo da comunhão sem isso”[2] Deveríamos estar ocupados conosco apenas o tempo suficiente para julgar a nós mesmos.

Os três amigos de Jó cometeram o erro de fazê-lo se ocupar consigo mesmo. Suas falsas acusações eram prejudiciais. Eliú, por outro lado, dirigiu Jó para Deus. Ele não conseguiu explicar a tribulação de Jó, mas apontou na direção certa. Deus não estava punindo Jó nem agindo arbitrariamente. Havia uma necessidade na vida de Jó e Deus trabalhava muito com ele. Jó, em sua veemente defesa própria, esqueceu-se de que Deus estava com ele: “Porque eis que Eu estou convosco, e Eu Me voltarei para vós, e sereis lavrados e semeados (Ez 36:9). Somente quando Jó entrou na presença de Deus é que ele encontrou libertação.



[1] N. do A.: Na tradução KJV, a palavra tentação é frequentemente usada em lugar da palavra provação. Uma é um teste interior, enquanto a outra é exterior. No grego, a palavra significa: colocar à prova. Geralmente, podemos substituir a palavra provação sem alterar o sentido.

[2] N. do A.: “Jottings” John N. Darby.


Vivendo em Vista da Eternidade

Quando Daniel foi trazido a Belsazar, foi-lhe oferecido o cargo de terceiro governante no reino: “Se puderes ler esta escritura, e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, e terás cadeia [corrente – JND] de ouro ao pescoço, e no reino serás o terceiro dominador (Dn 5:16). Certamente essa era uma grande honra, e ainda assim Daniel recusou! “Os teus dons fiquem contigo, e dá os teus presentes a outro” (Dn 5:17). Por que Daniel faria isso? Ele literalmente havia visto a inscrição na parede: “MENE, MENE, TEQUEL, UFARSIM” (Dn 5:25). O reino de Belsazar havia sido contado, pesado e entregue aos persas. Tudo estava terminado tanto para Belsazar quanto para o império babilônico; tudo estava prestes a ser conquistado pelos persas. Temos visto a inscrição na parede ou somos como Belsazar e seus sábios, sem entendimento da palavra profética de Deus?

Estamos nos agarrando às honras deste mundo ou buscando justiça em um mundo que não conhece justiça? Estamos vivendo com medo do homem, sem reconhecer que Deus, que Se lembra do pardal, tem Seu olhar sobre nós? Estamos ansiosos por comida e bebida quando temos um Pai que sabe que precisamos dessas coisas? Ou estamos depositando um tesouro no céu, onde ele não perecerá? “Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34). O capítulo 12 de Lucas se dirige aos fiéis em Israel, em vista de um Messias crucificado e da temporária colocação de lado de um reino terrenal. O que os fiéis deveriam fazer? Eles deveriam esperar a volta do Senhor, mas até lá haveria provações e violência; mas o Pai viu tudo e sabia de tudo e cuidaria do Seu pequeno rebanho. Podemos resumir o capítulo com uma pergunta simples: Estamos vivendo em vista da eternidade ou do que é aqui e agora?

O Cristão deveria viver sua vida na expectativa diária da vinda de Cristo. Estamos aguardando o brado do Senhor quando Ele chamar Sua noiva, a Igreja: “Sobe aqui” (Ap 4:1). “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com voz de arcanjo e com trombeta de Deus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Então nós que estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens juntamente com eles ao encontro do Senhor nos ares; e assim ficaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4:16-17 – TB). Esta é a nossa bem-aventurada esperança (Tt 2:13).

Nossa esperança, no entanto, não termina com isso. E nos gloriamos na esperança da glória de Deus(Rm 5:2). Antevemos um dia em que todos serão para a glória de Deus; uma cena que nada pode estragar. Se nosso pensamento termina com o Arrebatamento[1], então é provavelmente por razões erradas. Sim, queremos sair dessa cena, mas por quê? Apenas para escapar de nossas dificuldades?

O Senhor Jesus voltará à Terra em uma manifestação de glória para todos verem – esta é Sua Aparição. O Arrebatamento e a Aparição não devem ser confundidos; eles são dois eventos distintos e separados. No Arrebatamento, o Senhor não será visto por este mundo – somente por aqueles que forem arrebatados para encontrá-Lo nas nuvens. Porém, em Sua Aparição, todos os olhos O contemplarão (Ap 1:7). O que a Aparição de Cristo significa para nós? Estamos preocupados com a Sua glória?

Quando a Escritura conecta responsabilidade com a vinda do Senhor, sempre a conecta com Sua Aparição e não com o Arrebatamento. Talvez isso seja inesperado, mas deve ser assim. Na Sua Aparição a glória de Cristo será manifestada – uma glória a qual compartilharemos. Então não deveria ser nenhuma surpresa ler: Para confortar [confirmar – AIBB] os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos (1 Ts 3:13). Todos serão revistos e julgados antes desse tempo e as consequências de nossa responsabilidade estarão à vista. O apóstolo Paulo podia dizer dos crentes em Tessalônica: Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? (1 Ts 2:19). Ao escrever a Timóteo, Paulo diz: Que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Tm 6:14). Para os filipenses ele escreve: Retendo a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão (Fp 2:16). Estes são apenas alguns dos versículos que conectam nossa conduta à Aparição de Cristo. Viver no bem dessa esperança nos transforma – é preciso! E qualquer que n’Ele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro (1 Jo 3:3).

Se estivermos vivendo em vista da eternidade, não apenas nosso caminhar Cristão assumirá certas características morais, mas também seremos poupados das ansiedades deste mundo. Quando Paulo escreveu sua primeira carta aos tessalonicenses, eles esperavam intensamente o Filho de Deus vindo do céu (1 Ts 1:10). A esperança deles estava viva e bem. No entanto, quando Paulo escreveu sua segunda carta, eles estavam com a mente abalada e perturbados. Eles haviam perdido a esperança. Nesse momento em particular, foi por causa de um ensino falso. Eles estavam sofrendo perseguição e haviam sido persuadidos, por uma carta forjada, de que o dia do Senhor (um dia de terrível juízo) já “era presente” (2 Ts 2:2-3 – JND). O apóstolo os lembra de que pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele (2 Ts 2:1) eles não tinham motivos para ficar ansiosos. O dia do Senhor não chegará até que tenhamos sido tirados deste mundo no Arrebatamento: Também Eu te guardarei da hora da tentação [provação – JND] que há de vir sobre todo o mundo (Ap 3:10). Não é até o final do segundo capítulo que Paulo fala novamente da esperança e do conforto que vem com ela: E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra (2 Ts 2:16-17 – ARF).



[1] N. do A.: Do latim raptūra, arrebatar, levar – 1 Ts 4:17.